Violência nas relações de intimidade: o impacto na saúde mental da vítima
Simas, Tânia Patrícia Pimentel
Tese
Dissertação de mestrado integrado em Psicologia (área de especializacao em Psicologia da Justiça)
A presente investigação reflete o primeiro estudo realizado em Portugal sobre o impacto da
violência nas relações íntimas juvenis na saúde mental da vítima.
O objetivo primordial deste estudo consistiu na análise dos efeitos da vitimação em relações
abusivas na saúde mental. Para tal, atenderam-se a variáveis específicas das interações abusivas – tipo
de violência exercida, frequência, histórias prévias de vitimação e violência mútua – e variáveis
sociodemográficas (sexo, idade, curso e ano de frequência) no sentido de avaliar o impacto de cada
uma na saúde mental. Para além disso, apurou-se a prevalência dos comportamentos abusivos
perpetrados e recebidos no seio dos relacionamentos íntimos.
A amostra, constituída por 187 estudantes (54% do sexo masculino; 46% do sexo feminino)
da Universidade do Minho, dos cursos de Sociologia e Engenharia Informática, englobou os 3 anos do
1º ciclo de estudos. Foram administrados dois questionários de autorrelato que mediam dimensões da
violência sofrida (IVC – 2) e a sintomatologia psicopatológica (BSI). O tratamento de dados foi
efetuado com recurso ao programa estatístico SPSS.
Os resultados revelaram que 35.3% da amostra eram vítimas e 31.6% eram perpetradores. Em
relação à prevalência dos tipos de abuso, concluiu-se que o mais frequente foi o abuso emocional,
seguido do físico e físico severo, tanto na vitimação como na perpetração, assumindo valores
similares. Paralelamente, constatou-se que o género, idade, curso e ano de frequência não possuíam
qualquer associação com a experiência de vitimação. Quanto aos efeitos na saúde mental, as vítimas
pontuaram níveis significativamente mais elevados de sintomatologia psicopatológica do que as não
vítimas. A respeito das variáveis específicas das interações abusivas, constatou-se que o abuso
emocional, a existência de um padrão reiterado de violência e a presença de violência mútua foram as
que originaram mais consequências negativas na saúde mental. A existência de histórias prévias de
vitimação não se constituiu uma variável diferenciadora no que toca ao impacto na saúde mental. Por
fim, aludindo às variáveis sociodemográficas, as mulheres, os participantes mais velhos, os estudantes
do curso de Sociologia e os alunos do 1º ano revelaram maior propensão para manifestar
sintomatologia psicológica.
Os resultados do estudo vêm alertar para a necessidade de investimento científico nesta
problemática, de forma a alcançar um maior conhecimento sobre as consequências deste fenómeno na
saúde mental.
The present study is the first one conducted in Portugal concerning the impact of dating
violence on the victim‟s mental health.
The primary goal of this study was to analyse the effects of abusive relationships
victimization on mental health. For this purpose, specific variables of abusive interactions were taken
in account – type of violence, frequency, history of victimization and mutual violence – and
sociodemographic variables (gender, age, course and year of attendance) in order to evaluate each
one‟s impact on mental health. In addition the prevalence of perpetrated and victimized abusive
behaviours were assessed.
The sample was composed of 187 students (54% male, 46% female) from the University of
Minho‟s courses of Sociology and Computer Engineering, covering the three years of the 1st cycle of
studies. Two self-report questionnaires that measure dimensions of suffered violence (IVC – 2) and
psychopathological symptomatology (BSI) were administrated. The data treatment was processed with
the statistics software SPSS.
Results reveal that 35.3% of the sample was victims and 31.6% were perpetrators. It was
concluded that, regarding the prevalence of types of abuse, the most frequent was the emotional,
followed by the physical and severe physical both in victimization and perpetration, with similar
values. It was also found that gender, age, course and year of attendance had no association with
victimization experience. Regarding the mental health, victims scored significantly higher levels of
psychopathological symptomatology than non-victims. Concerning the specific variables of abuse
interactions, it was found that the emotional abuse, higher frequency of abuse and the presence of
mutual violence were responsible for more negative mental health outcomes. The existence of
previous histories of victimization did not affect mental health. Finally, alluding to the
sociodemographic variables, women, older participants, students from Sociology and first-year
students were more likely to manifest psychological symptomatology.
The results alert to the need of scientific investment on this issue in order to achieve a greater
understanding of this phenomenon‟s consequences in mental health.