Mecanismos de aprendizagem implícita em adultos e crianças portuguesas com idade escolar e pré-escolar: estímulos linguísticos num paradigma de gramática artificial
Faria, Frederica Rodrigues Freitas
Diversos
Vivemos imersos num mundo onde os eventos não ocorrem de forma aleatória. À
capacidade para extrairmos as regularidades do meio que nos circunda mesmo sem
consciência de o fazermos chamámos aprendizagem implícita. Esta capacidade assume
um papel significativo na aquisição de uma vasta gama de competências, desde
competências percetivas e motoras, até competências sociais e ainda muitas das
competências linguísticas regidas por regras. Contudo as dinâmicas desenvolvimentais da
aprendizagem implícita permanecem por esclarecer. Nesta dissertação recorremos a um
paradigma de Aprendizagem de Gramática Artificial (AGA) junto de adultos e crianças
portuguesas com idade escolar e pré-escolar para testarmos se há evidências de
modificações nos mecanismos de aprendizagem implícita ao longo do desenvolvimento.
Neste paradigma, os participantes são inicialmente expostos a uma fase de treino ou de
familiarização com sequências de letras seguida de uma fase de teste onde lhes é pedido
que decidam se outras sequências de letras, antes não apresentadas, obedecem ou não às
regras que definiram o modo como as sequências de letras apresentadas na fase de
exposição se organizaram. Acertos superiores ao acaso são entendidos como evidência de
aprendizagem na tarefa. Os resultados revelaram evidência de aprendizagem implícita
apenas no grupo dos adultos, ainda que este resultado se deva essencialmente à rejeição
correta dos estímulos não-gramaticais que contém violações ou ilegalidades salientes das
regras subjacentes. Estes resultados questionam o uso da tarefa de AGL para testar
aprendizagem implícita tanto em crianças como em adultos.
We live immersed in a world where events do not occur randomly. The ability to extract
regularities from the environment that surrounds us even without being aware of doing it
is called implicit learning. This ability plays a significant role in the acquisition of a wide
range of skills, from perceptual and motor skills, to social cognition as well as in many of
the rule-governed aspects of language. However, the developmental dynamics of implicit
learning remains unclear. In this dissertation, we used an Artificial Grammar Learning
(AGL) paradigm with Portuguese adults and preschool and school children to test for
changes in implicit learning mechanisms throughout development. In this paradigm,
participants were firstly exposed to a training or familiarization phase in which letter
sequences were presented, followed by a test phase, where they were asked to decide
whether other letter sequences not previously presented obey, or not, to the rules that
define how the letter sequences presented in the training phase were combined. Hits
above the chance level were interpreted as evidence of learning in the task. The results
revealed evidence of implicit learning only in the group of adults, although this result was
mainly due to the correct rejection of non-grammatical sequences that contain salient
violations or illegalities of the underlying rules. These results question the use of AGL
tasks to test for implicit learning both in children and adults.