Vinculação e psicopatologia, em mães e pais, na gravidez e transição para a parentalidade: impacto no desenvolvimento fetal e neonatal
Conde, Ana
Tese
Tese de doutoramento em Psicologia (ramo de Conhecimento em Psicologia Clínica)
A investigação descrita foi desenvolvida com o intuito de estudar o modo
como mães e pais vivenciam a etapa de desenvolvimento pessoal, conjugal e
familiar correspondente à gravidez e parentalidade. Visou determinar quais os
acontecimentos adversos de vida e as preocupações parentais predominantes neste
período, analisar quais os factores de risco para a morbilidade psicológica parental e
avaliar o impacto da sintomatologia ansiosa e depressiva da mãe e do pai, bem
como dos seus níveis hormonais, no desenvolvimento fetal e neonatal.
Hipotetizava-se que factores de diversa ordem (demográficos, psicossociais,
relacionais, de suporte social, acontecimentos adversos de vida e preocupações
parentais), pudessem determinar a vivência psicológica da gravidez e transição para
a parentalidade, por parte de mães e pais, contribuindo para um aumento da sua
sintomatologia ansiosa e depressiva, bem como dos seus níveis de cortisol.
Hipotetizava-se, de igual forma, que estes factores de risco pudessem ser distintos
em ambos os elementos do casal e específicos para cada etapa da gravidez e
puerpério. Sugeria-se ainda que o estilo de vinculação fosse uma variável mediadora
do impacto dos acontecimentos adversos de vida no incremento da sintomatologia
ansiosa e depressiva durante este período de transição, e que a sintomatologia
psicopatológica de mães e pais, bem como os seus níveis de cortisol afectassem,
embora diferencialmente, o desenvolvimento fetal e neonatal.
A amostra deste estudo englobou 123 mulheres grávidas e respectivos
companheiros, recrutados na Consulta Externa de Ginecologia/Obstetricia da
Maternidade de Júlio Dinis (MJD), os quais foram avaliados, nos três trimestres de
gravidez e aos 15 dias e três meses após o parto, quanto à sintomatologia ansiosa e
depressiva e à ocorrência e preocupação com acontecimentos adversos de vida, e,
na gravidez, quanto ao estilo de vinculação e a qualidade do suporte prestado pelo
companheiro e por outras figuras significativas. Foi, de igual forma, examinado o desenvolvimento fetal no 2º trimestre de gravidez e o desenvolvimento neonatal, aos
15 dias e três meses após o parto.
Os resultados obtidos suportam empiricamente algumas das previsões: 1) a
presença de morbilidade psicológica de tipo ansioso e depressivo, tanto nas
mulheres quanto nos homens, embora mais acentuada na mãe do que no pai; 2) a
comorbilidade entre ambos os tipos de sintomatologia psicopatológica, em mães e
pais, embora os sintomas de ansiedade se tivessem apresentado mais prevalentes
do que os sintomas depressivos, durante todo o período de transição para a
parentalidade; 3) a variação temporal observada em ambos os tipos de
sintomatologia psicopatológica, com o 1º trimestre e o parto a serem identificados,
como os períodos associados a uma maior vulnerabilidade em ambos os elementos
da díade conjugal; 4) a existência de factores de risco associados à presença de
sintomatologia ansiosa e depressiva, alguns deles comuns entre mulheres e
homens, tais como a multiparidade, habilitações literárias mais baixas e maior
número de acontecimentos adversos de vida, e outros específicos da mãe, como é o
caso do estilo de vinculação e da ocorrência/preocupação com acontecimentos
adversos de vida relativos ao domínio familiar e interpessoal, à actual gravidez e à
aceitação da actual gravidez, e do pai, relativos à qualidade discordante do
relacionamento estabelecido com a companheira e a ocorrência/preocupação com
acontecimentos adversos de vida a nível profissional e educacional; 5) o impacto
negativo da sintomatologia ansiosa e depressiva da mãe e do pai, e dos seus níveis
de cortisol, no desenvolvimento fetal e neonatal: maiores níveis de ansiedade traço
das mães, no 1º trimestre de gravidez, permitem predizer um menor crescimento e
uma maior actividade fetal no período intermédio da gestação, bem como um menor
peso do bebé à nascença; maiores níveis de cortisol maternos, no 2º trimestre de
gestação, permitem predizer uma maior actividade fetal em igual período; níveis
mais elevados de sintomatologia depressiva paterna, no 3º trimestre de gravidez,
permitem predizer um maior número de semanas de gestação à altura do parto;
maiores níveis de sintomatologia ansiosa paterna, exibidos 15 dias após o parto,
permitem predizer piores desempenhos do recém-nascido na subescala Regulation
of State e resultados mais elevados na subescala Excitable da NBAS; melhores
desempenhos do recém-nascido nas subescalas Orientation e Motor podem ser
preditos, respectivmente, por maiores níveis de sintomatologia ansiosa, no 3º
trimestre, e de sintomatologia depressiva, no 1º trimestre de gravidez, do pai.
The research presented was developed with the purpose of analysing how
mothers and fathers experiment the phase of individual, marital and familiar
development which corresponds to pregnancy and parenthood. The aim of this study
was to determine the main stressful events and parental worries during this period, to
analyse risk factors of parental psychological morbidity and to explore the effects of
mother’s and father’s anxiety and depression symptoms, as well as of their hormonal
levels, on fetal and neonatal development.
We hypothesised that several risk factors (demographic, psychosocial, social
support, stressful events and parental worries), could determine mother’s and
father’s psychological adjustment during pregnancy and transition to parenthood,
namely by the contribution to the increase of anxiety and depression symptoms, as
well as cortisol levels. We also hypothesised that these risk factors are different in
women and men and specific to each phase of pregnancy and postpartum period.
Additionally, we suggested that the mediator effect of attachment style in the impact
of stressful events on the increase of mother’s and father’s anxiety and depression
symptoms during transition to parenthood, as well as the negative influence of
parental psychopathological symptoms and cortisol levels on fetal and neonatal
development.
The sample consisted of 123 pregnant women and their partners, recruited at
the antenatal obstetric service of the Júlio Dinis Maternity Hospital (MJD) - Porto,
who were assessed at the 1st, 2nd and 3rd pregnancy trimesters and at 15 days and
three months postpartum, concerning anxiety and depressive symptoms, stressful
events and concerns, and, during pregnancy, concerning to attachment style and
marital and social support. Fetal development was also assessed at 2nd pregnancy
trimester and neonatal development, at 15 days and three months postpartum.
Results have supported some of these hypotheses: 1) high levels of anxiety
and depression symptoms, both in women and men, although the prevalence of psychological morbidity was more prevalent in mothers than in fathers; 2) comorbidity
between anxiety and depression, both in women and men, although the prevalence
of anxiety symptoms was higher than the prevalence of depression symptoms, during
all the period of transition to parenthood; 3) temporal changes in the prevalence of
anxiety and depression symptoms over pregnancy and postpartum period, with the
1st pregnancy trimester and childbirth being associated to higher psychological
morbidity, both in mothers and fathers; 4) several risk factors were associated to
mother’s and father’s anxiety and depression symptoms. Some of them, such as
multiparity, lower education and more stressful events are similar in women and men.
Others contribute differently to the development of anxiety and depression in women,
such as attachment style and stressful events and concerns associated to family and
interpersonal events, present pregnancy and acceptance of present pregnancy, and
in men, such as discordant relationship with the partner and stressful events and
concerns related to professional and educational events; 5) negative impact of
mother’s and father’s anxiety and depression symptoms, as well as cortisol levels, on
fetal and neonatal development: high trait anxiety in mothers, at the 1st pregnancy
trimester, were associated to lower fetal growth and higher fetal activity, at 2nd
pregnancy trimester, as well as lower birthweight; high maternal cortisol levels at 2nd
pregnancy trimester were associated to higher fetal activity at the same period; high
levels of depression in fathers in the 3rd trimester were associated to higher duration
of gestation; high levels of state anxiety in fathers 15 days postpartum were
associated to newborn’s worst results on Regulation of State NBAS subscale and
higher results on Excitable NBAS subscale; higher newborn’s performances on
Orientation and Motor NBAS subscales were associated, respectively, to higher
levels of state anxiety in fathers, at the 3rd trimester, and to higher levels of
depression in fathers, in the 1st pregnancy trimester.
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) - Bolsa de investigação SFRH/BD/13768/2003 no âmbito do co-financiamento do POCI 2010
Formação Avançada para a Ciência (FSE) - Medida IV.3