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Adaptação ao trabalho por turnos

Adaptação ao trabalho por turnos

Silva, Isabel Maria Soares da

| 2008 | URI

Tese

Tese de doutoramento em Psicologia - Área Psicologia do Trabalho e das Organizações.
A diversificação dos horários de trabalho constitui uma das mudanças mais significativas que ocorreram nas últimas décadas do ponto de vista ocupacional. Entre as diversas
modalidades horárias existentes, consta a organização do horário de trabalho por turnos.
Esta modalidade horária tem sido associada a diversos efeitos indesejáveis para os
trabalhadores dado que poderá colocar problemas do ponto de vista fisiológico,
psicológico e social e, também, ao nível organizacional (ex., produtividade, segurança
ocupacional), especialmente em conexão com o trabalho nocturno.
As várias fases empíricas que compõem este trabalho foram levadas a cabo em
organizações têxteis que laboravam por turnos, à excepção da primeira fase que consistiu
na caracterização de um segmento de empresas da Indústria Têxtil e do Vestuário do
Distrito de Braga em função dos horários de trabalho (com e sem trabalho nocturno). A
comparação entre o subsector têxtil e o subsector do vestuário, indica que o recurso ao
trabalho nocturno ocorre predominantemente em empresas integradas no primeiro.
O presente trabalho nasceu do interesse em compreender o modo como as organizações
localmente reconhecem e gerem os problemas associados ao trabalho por turnos. Nesse
âmbito, foram realizadas 10 entrevistas qualitativas em 5 organizações do subsector têxtil.
Globalmente, a percepção dos entrevistados é consonante com a literatura, especialmente
do ponto de vista da saúde dos trabalhadores que realizam trabalho nocturno. Exceptuando
as compensações económicas e a vigilância médica, ambas reguladas por lei, não foram
identificadas estratégias específicas para os problemas identificados em conexão com o
trabalho nocturno. No entanto, as organizações diferenciam-se nas práticas de gestão do
trabalho por turnos, especialmente ao nível das estratégias de admissão e de transferência
entre turnos. É explorada a hipótese de que tais diferenças possam estar associadas a
diferentes níveis de abandono do trabalho nocturno em interacção com variáveis de nível
individual. Este estudo empírico, juntamente com o seguinte (estudo de caso), constituem
a fase mais exploratória do projecto de investigação, tendo em ambos os casos, sido
privilegiada a compreensão dos processos organizacionais envolvidos na gestão do
trabalho por turnos.
No estudo de caso foi analisado o modo como a organização geriu um processo de
conversão de um sistema de turnos semi-contínuo a laboração contínua. Foram
entrevistados os 2 actores organizacionais responsáveis por essa gestão e realizadas 38
entrevistas estruturadas a trabalhadores. Concomitantemente, foram analisados outros
aspectos relativos à experiência de trabalho por turnos (ex., análise das razões que
motivaram mudanças entre turnos). Globalmente, os resultados indicam a saliência dos
factores sociais e organizacionais nas respostas dos trabalhadores à mudança horária.
Além disso, apontam para relevância da participação dos trabalhadores nos aspectos
relativos ao tempo de trabalho do ponto de vista da adaptação.
No último estudo foi testado um modelo estrutural numa amostra de 752 trabalhadores
têxteis, oriundos de 4 organizações. Este modelo analisa o impacto de variáveis de saúde
subjectiva (“queixas de sono”, “queixas digestivas” e “fadiga crónica”), do contexto
organizacional (“suporte do contexto organizacional”) e do contexto extra-organizacional
(“conciliação entre o horário de trabalho e vida extra-organizacional”) na resposta aos
horários de trabalho. Os resultados suportam parcialmente o modelo. A “conciliação extratrabalho”
é o factor que exerce uma influência mais significativa na resposta ao horário de
trabalho. Por outro lado, o “esforço” colocado na interface entre horário de trabalho e
“vida extra-organizacional” e o “suporte do contexto organizacional” predizem a
“conciliação extra-trabalho”. Os resultados apontam para a relevância das práticas
flexíveis na gestão do tempo do trabalho.
From the ocupational point of view the diversification of working schedules is one of the most significant changes which occurred in the last decades. Amongst the varied working schedules
there is the shiftwork. This working schedule has been associated with different undesirable
effects on the workers, since it may generate physiological, psychological and social problems,
as well as problems at the organizational level (e.g. productivity, occupational safety),
especially in night work.
The empirical stages of the present study were carried out in textile companies where working
hours were organized into shifts, with the exception of the first stage which consisted of
characterising a group of companies from the Textile and Clothing Industry in the district of
Braga, according to their working schedules (with or without night work). The comparison
between the textile and the clothing subsectors showed that the recourse to night work occurs
predominantly in the companies of the former.
The present study arose from the interest in understanding how the organizations at local level
recognize and manage the problems connected with shiftwork. Within the ambit of this study 10
qualitative interviews were carried out in 5 organizations of the textile subsector. In global
terms, the perceptions of the interviewees were consonant with literature, especially from the
night workers’ health point of view. Except for the economic compensation and medical care,
both regulated by legislation, no specific strategies related to night work problems were
identified. Nevertheless, differences concerning shiftwork managing practices, mainly in what
refers to admission criteria and the transference of workers within shifts, were found within the
organizations. The hypothesis that such differences might be associated with different levels of
night work leave in interaction with individual variables was also explored.
This empirical study, in addition to the following (case study), comprise the most exploratory
stage of the research project. In both cases the understanding of the organizational processes
involved in shiftwork management was privileged.
Within the case study the way the organization managed the conversion from a semi-continuous
shift system into a continuous labour system was analysed. Two organizational actors, who
managed the conversion process, were interviewed and 38 structured interviews were carried
out with the workers. Concurrently, other aspects related to the shiftwork experience were also
analysed (e.g., analysis of the reasons behind shift changing).
In global terms the results point out the relevance of social and organizational factors shown in
the answers of the workers concerning the working schedule change. From the adaptation point
of view they also point out the relevance of the workers participation to aspects related to
working time.
In the latter study a structural model was tested on a sample of 752 textile workers from 4
organizations. This model analyses the impact of subjective health variables (e.g., ‘sleep
complaints’, ‘digestive complaints’ and ‘chronic fatigue’), of the organizational context
(‘support in organizational context’) and of the extra/organizational context (‘working schedule
and extra/organizational life conciliation’) in the workers’ answers concerning the working
schedule. The model was partially corroborated by the results. The ‘extra-work conciliation’ has
a significant influence on the answer to the working schedule. On the other hand, the ‘effort’ put
into the interface between the ‘working schedule’ and ‘extra/organizational life’ as well as the
‘support at organizational level’ predict the ‘extra/work conciliation’.
The results point out the relevance of flexible practices to the management of the working time.

Publicação

Ano de Publicação: 2008

Identificadores

ISBN: 101182554