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Depressão materna na gravidez : efeitos no desenvolvimento fetal e neonatal

Depressão materna na gravidez : efeitos no desenvolvimento fetal e neonatal

Guedes, Alexandra Patrícia Lopes Pacheco

| 2012 | URI

Tese

Tese de doutoramento em Psicologia, (área de especialização em Psicologia Clínica)
Concetualização: A Psicopatologia do Desenvolvimento trouxe uma nova perspetiva
na compreensão de como a depressão materna na gravidez pode contribuir para os
resultados adversos no desenvolvimento fetal e neonatal. O estudo dos mecanismos
subjacentes à transmissão do risco mãe-filho revelou a contribuição de variáveis fetais
na explicação das diferenças individuais no desenvolvimento. Objetivos: 1) Estudar os
efeitos da depressão materna na gravidez no desenvolvimento fetal e neonatal; 2)
Analisar a depressão materna no parto como potencial mediador/moderador da relação
entre depressão materna na gravidez e desenvolvimento neonatal; 3) Avaliar a resposta
cardíaca fetal à administração de um paradigma de familiaridade-novidade com
estímulos auditivos/discursivos; e, 4) Identificar potenciais mecanismos que permitam
explicar a relação entre depressão materna na gravidez e desenvolvimento neonatal.
Método: Uma amostra de 110 grávidas (no terceiro trimestre de gravidez) foi dividida
em dois grupos de acordo com a sua cotação na Edinburgh Postnatal Depression Scale
(EPDS: 10, deprimidas; < 10, não-deprimidas). Entre a 33ª e a 37ª semana de
gravidez, as participantes contaram uma curta história aos seus fetos, todos os dias. A
frequência cardíaca fetal (FCF) foi avaliada à 37ª semana de gestação através de um
cardiotocograma computorizado, enquanto uma gravação dos estímulos discursivos
(história familiar e história nova) era apresentada próximo do abdómen materno.
Medidas da FCF em resposta à estimulação e da biometria fetal foram recolhidas no
terceiro trimestre de gestação. Nos primeiros 5 dias após o parto, os recém-nascidos
foram avaliados através da Neonatal Behavioral Assessment Scale (NBAS) e do
paradigma da ‘Preferencia e habituação pela face/voz da mãe/estranha’; as mães preencheram o EPDS. Resultados: Os fetos de grávidas deprimidas, apresentaram
menor perímetro cefálico e abdominal, em comparação com os fetos de grávidas não
deprimidas. Recém-nascidos de mães deprimidas, comparativamente com recémnascidos
de mães não deprimidas na gravidez, revelaram piores resultados nas subescalas da NBAS (regulação do estado, mudança de estado e habituação); não
mostraram preferência visual/auditória pela face/voz da mãe; necessitaram mais
apresentações do estímulo face/voz da mãe até se habituarem; e apresentaram maior
preferência visual/auditória pela face/voz da estranha após habituação. A depressão no
parto não contribuiu para os efeitos da depressão materna na gravidez no
desenvolvimento neonatal. Uma maior variabilidade da FCF foi observada durante a
apresentação de estímulos discursivos (em oposição ao préteste), bem como na primeira
apresentação do estímulo familiar (em oposição ao estímulo novo) e na terceira
apresentação do estímulo novo (em oposição à primeira apresentação). Não se
observaram diferenças significativas na linha de base da FCF. A variabilidade da FCF
mediou a relação entre depressão materna na gravidez e o neurocomportamento do
recém-nascido, explicando 11.7% da variância observada. Conclusão: A depressão
materna na gravidez é uma condição de risco para o desenvolvimento neonatal, sendo
que a sintomatologia depressiva materna nos primeiros dias após o parto não explica os
resultados desenvolvimentais do recém-nascido. A variabilidade de FCF surge a
explicar a relação entre depressão materna no terceiro trimestre de gestação e
desenvolvimento neonatal. Com vista à redução do risco associado à depressão materna
justifica-se a implementação de medidas preventivas de saúde materno-fetal,
precocemente na gravidez.
Background: Developmental Psychopathology has brought new possibilities for
understanding how maternal depression during pregnancy may contribute to adverse
foetal and neonatal development. The study of the underlying mechanisms of motherto-
child transmission of risk, have shown the contribution of foetal variables in the
explanation of the following development. Aims: 1) To study the effect of mother’s
depression during pregnancy on foetal and neonatal development; 2) To analyse
mother’s depression at childbirth as a potential mecanism in the explanation of the
relationship between mother’s depression during pregnancy and neonate development;
3) To evaluate the fetal cardiac response during the administration of a familiaritynovelty
paradigm with auditory/discursive stimuli; and 4) To identify potential foetal
mediators/moderators of the relationship between mother’s depression during
pregnancy and neonatal development. Method: A sample of 110 pregnant women (at
the third trimester of pregnancy) was divided in 2 groups according to their scores on
the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS: 10, depressed; < 10, nondepressed).
Between the 33rd and the 37th week of gestation, mothers recited a short
nursery rhyme to their fetuses every day. Fetal heart rate (FHR) was assessed at 37
weeks gestation by computerised cardiotocography, while pre-recorded speech stimuli
(familiar and novel nursery rhymes) were presented using a loudspeaker held above the
maternal abdomen. Measures of FHR in response to stimuli and foetal biometry were
collected at the third pregnancy trimester. In the first 5 days after birth, neonatal
performance on the Neonatal Behavioral Assessment Scale (NBAS) and in the
‘Preference and habituation to the mother’s face/voice versus stranger’ paradigm was
assessed; each mother filled out an EPDS. Results: The foetuses of depressed pregnant
women, had an inferior head and abdomen circumference growth, compared to foetuses
of non-depressed pregnant women. Neonates of depressed mothers, compared to
neonates of non-depressed mothers, achieved lower scores on the NBAS scales
(regulation of state, range of state, and habituation); did not show a visual/auditory
preference for the mother’s face/voice; required more trials to become habituated; and showed a higher visual/auditory preference for the stranger’s face/voice after
habituation. Depression at childbirth does not contribute to the effect of antenatal
depression on neonatal development. A significantly higher FHR variability was
observed during stimuli presentation (in opposition to pretest), as well as during the first
presentation of the familiar stimulus (in opposition to the novel stimulus), and in the
third presentation of the novel stimulus (in opposition to its first presentation). No
significant changes were observed in baseline FHR. FHR variability mediates the
relationship between mother’s depression during pregnancy and neonate
neurobehaviour, explaining 11.7% of the variance observed. Conclusion: Mother’s
depression during pregnancy is a risk condition for neonates’ development. Depression
at the first days after childbirth does not contribute to neonates’ developmental
outcomes. FHR variability explaine the relation between mother’s depression at the
third pregnancy trimester and neonatal development. In order to reduce the risk
associated with maternal depression, the implementation of preventive maternal-fetal
health measures, early in pregnancy, is needed.

Publicação

Ano de Publicação: 2012

Identificadores

ISBN: 101398654