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Variáveis individuais, familiares e sócio-cognitivas no comportamento tabágico : um estudo com fumadores e abstinentes

Variáveis individuais, familiares e sócio-cognitivas no comportamento tabágico : um estudo com fumadores e abstinentes

Afonso, Maria Fernanda Besteiro

| 2013 | URI

Tese

Tese de doutoramento em Psicologia
(área de especialização em Psicologia da Saúde)
O consumo de tabaco é um comportamento aditivo com graves consequências para a saúde
(Becoña, 2002). O presente estudo teve como objetivo principal avaliar fumadores e abstinentes ao nível
das Representações do tabaco, Morbilidade Psicológica, Suporte do Parceiro, Ajustamento de Casal,
Coping Familiar e variáveis Sócio-cognitivas do Comportamento Planeado. Tratou-se dum estudo
transversal que envolveu 224 fumadores e 169 abstinentes comparados um grupo de não-fumadores
(n=173) (apenas no primeiro estudo). A recolha de dados foi efetuada no Hospital de Braga, numa
empresa privada e na Universidade do Minho. Os instrumentos aplicados foram: Teste de Dependência
de Nicotínica de Fagerström (TDNF) (Fagerström, 1978); Brief Illness Perception Questionnaire (IPQ-B)
(Broadbent, Petrie, Main, & Weinman, 2006); Revised Dyadic Adjustment Scale (R-DAS) (Busby,
Christensen, Crabe & Larson, 1995), Family Crisis Oriented Personal Scales (F-COPES) (McCubbin,
Olson, & Larsen, 1982), Partner Interaction Questionnaire (PIQ) (Cohen & Lichstein, 1990); Depression
Anxiety Stress Scale (DASS) (Lovibond & Lovibond, 1995); Medical Outcomes Study Short Form 36 (MOS
SF-36) (Ware & Sherbourne, 1992) e Questionário do Comportamento Planeado para Deixar de Fumar
(QCP-DF) (Ajzen, 2006).
O primeiro estudo revelou que os abstinentes, quando comparados com os não fumadores e
fumadores, apresentaram representações cognitivas face ao tabaco mais ameaçadoras, mais ansiedade,
mais coping familiar, mais suporte do parceiro e qualidade de vida mental. Os não fumadores,
apresentaram representações emocionais mais ameaçadoras, menor compreensão face a fumar e mais
coesão. Os fumadores reportaram mais qualidade de vida física. Nos fumadores, os preditores do
suporte positivo do parceiro foram a menor idade, mais ajustamento de casal e representações
cognitivas menos ameaçadoras enquanto do suporte negativo foram menos idade, sexo masculino, mais
ajustamento de casal e mais morbilidade psicológica. Nos abstinentes, os preditores do suporte positivo
do parceiro foram as representações emocionais mais ameaçadoras e, em relação ao suporte negativo,
a maior dependência nicotínica e menor morbilidade psicológica. Os preditores da qualidade de vida mental, nos fumadores, foram: parceiro não fumar, menor dependência nicotínica, mais ajustamento de
casal, menor morbilidade psicológica, menor compreensão acerca de fumar e mais suporte positivo do
parceiro. Nos abstinentes os preditores foram menor dependência nicotínica e menor morbilidade
psicológica. Os preditores da qualidade de vida física, nos fumadores, foram: ser do sexo feminino, ter
um parceiro que não fuma, menor morbilidade psicológica, menos suporte negativo, e mais positivo, e,
nos abstinentes, destacaram-se ter menos idade, o parceiro não fumar, menor morbilidade psicológica e
menor compreensão sobre fumar. O segundo estudo revelou que ter menos idade, ser do sexo masculino, ter doença respiratória, fumar mais cigarros/dia, ter um parceiro que fuma, menor qualidade
de vida mental e mais morbilidade psicológica foram preditores de maior dependência tabágica. As
representações do tabaco (representações emocionais, cognitivas e compreensão) mostraram-se
preditoras das varáveis sócio-cognitivas (intenção, atitudes, crenças de comportamento, normas
subjetivas, controlo comportamental percebido, crenças normativas/controlo e planeamento do
coping/ação). O terceiro estudo revelou que os abstinentes, comparados com os fumadores,
apresentaram mais ansiedade, mais suporte do parceiro, maior duração do consumo de tabaco, menor
controlo pessoal, identificaram mais sintomas, maior preocupação e maior resposta emocional
associada ao tabaco. Os fumadores apresentaram menos controlo de tratamento. Em ambos os grupos,
relacionaram-se entre si, a morbilidade psicológica, representações do tabaco e o suporte do parceiro.
Os preditores do suporte positivo do parceiro, nos fumadores, foram: sexo masculino, mais idade, menor
depressão e mais stress e mais controlo do tratamento. Para o suporte negativo do parceiro foram: sexo
masculino, ter mais idade, menos ansiedade e mais stress, mais consequências, mais controlo do
tratamento e mais identidade relacionada com o tabaco. Os preditores do suporte positivo do parceiro,
nos abstinentes foram: menor idade, mais ansiedade e mais resposta emocional, e os do suporte
negativo foram mais idade. O quarto estudo revelou que o suporte do parceiro teve um efeito mediador
na relação entre as representações do tabaco e as variáveis sócio-cognitivas (atitudes, controlo
comportamental percebido e planeamento do coping/ação) nos fumadores. O quinto estudo mostrou o
efeito moderador da morbilidade psicológica entre a qualidade de vida e as representações do tabaco
nos fumadores e abstinentes. As variáveis que discriminaram os fumadores com intenção para deixar de
fumar versus sem intenção foram: menor compreensão acerca de fumar, representações emocionais
mais ameaçadoras, mais crenças de comportamento, mais controlo comportamental percebido e mais
crenças normativas/controlo em relação a deixar de fumar. O sexto estudo revelou, nos fumadores e abstinentes, o suporte positivo e negativo do parceiro, como variáveis moderadoras na relação entre a
morbilidade psicológica e a qualidade de vida em relação ao comportamento de deixar de fumar.
No âmbito da Psicologia da Saúde, estes resultados evidenciam o papel das representações
como preditores das sócio-cognitivas do comportamento planeado para deixar de fumar, a importância
do papel moderador da morbilidade psicológica e do suporte do parceiro no comportamento de fumar,
bem como o papel mediador do suporte do parceiro nas sócio-cognitivas do comportamento planeado
para deixar de fumar. A intervenção no âmbito da cessação tabágica deve ser orientada tendo em conta
variáveis familiares, em particular o suporte do parceiro, bem como a morbilidade psicológica e as
representações do tabaco bem como o facto de ter um parceiro não fumador.
Tobacco use is an addictive behavior with serious health consequences (Becoña, 2002). The
present study evaluated smokers, abstinents and non-smokers in terms of Individual, Family and Socio-
Cognitive Variables. This was a cross-sectional study that involved 224 smokers, 169 abstinents. Only in
the first study, a group of 174 non-smokers were included. Data were collected in an hospital, a private
company and the University of Minho. Instruments used were: Fagerström Nicotine Dependence Test
(TDNF) (Fagerström, 1978); Brief Illness Perception Questionnaire (IPQ-B) (Broadbent, Petrie, Main, &
Weinman, 2006); Revised Dyadic Adjustment Scale (R-DAS) (Busby, Christensen, Crabe & Larson,
1995), Family Crisis Oriented Personal Scales (F-COPES) (McCubbin, Olson, & Larsen, 1982), Partner
Interaction Questionnaire (PIQ) (Cohen & Lichstein, 1990); Depression Anxiety Stress Scale (DASS)
(Lovibond & Lovibond, 1995); Medical Outcomes Study Short Form 36 (MOS SF-36) (Ware &
Sherbourne, 1992) and Planned Behavior Questionnaire to Quit Smoking (QCP-DF) (Ajzen, 2006).The
results of the first study indicated that abstinents, when compared with non-smokers and smokers,
showed more threatening cognitive representations in relation to tobacco, more anxiety, more family
coping, more partner support and mental quality of life. Non-smokers revealed more threatening
emotional tobacco representations, less comprehensibility towards their smoking habit and more couple
adjustment. Smokers, interestingly, showed more physical quality of life, less mental quality of life, less
anxiety, less family coping and less partner support. In smokers, the predictors of positive partner
support were being younger, more couple adjustment and less threatening cognitive tobacco
representations, while the predictors of negative partner support were being younger, being male, more
couple adjustment and more psychological morbidity. In abstinents, the predictors of positive partner
support were more threatening emotional tobacco representations while the predictors of negative
partner support were higher nicotinic dependence and less psychological morbidity. The predictors of mental quality of life, in smokers, were having a non-smoker partner, less nicotine dependence, more
couple adjustment, less psychological morbidity, less tobacco comprehensibility and more positive
partner support. On the other hand, in abstinents, the predictors of mental quality of life were less
nicotine dependence and less psychological morbidity. The predictors of physical quality of life, in
smokers, were being female, having a non-smoker partner, less psychological morbidity and less
negative partner support and more positive partner support and, in abstinents, the predictors were being
younger, having a non-smoker partner, less psychological morbidity and less comprehensibility regarding
their smoking habit. The second study showed that being younger, male, having a respiratory disease,
smoke more cigarettes per day, having a partner who smokes, having less mental quality of life and
psychological morbidity were predictors of higher nicotine dependence. On the other hand, the variables that predicted intention were being older, less comprehensibility towards smoking, more threatening
emotional representations and having a non-smoker partner; attitudes towards behavior were predicted
by less comprehensibility towards smoking, more threatening cognitive representations and having a nonsmoker
partner; being older, more threatening emotional and cognitive representations and having a nonsmoker
partner predicted behavioral beliefs; more threatening emotional representations and having a
non-smoker partner predicted subjective norms; less threatening cognitive representations and having a
non-smoker partner predicted perceived behavioral control; being older, having a non-smoker partner,
more threatening emotional representations predicted normative/control beliefs. Finally, more
threatening emotional and cognitive representations and being male predicted coping/action planning.
The third study found that abstinents, when compared to smokers, showed more anxiety, more partner
support and showed a longer timeline of tobacco consumption, lower personal control, more identity
(identification of more symptoms related to their smoking habit), more concern and emotional response
towards smoking. Smokers revealed less treatment control. Predictors of positive partner support, in
smokers, were being male, being older, less depression and more stress and more treatment control.
The predictors of negative partner support were: being male, being older, less anxiety and more stress,
more consequences, more treatment control and identity. In abstinents, predictors of positive partner
support were being younger, more anxiety and more emotional response, while being older predicted
more negative partner support. The fourth study showed, in smokers, partner support to be a mediator in
the relationship between tobacco representations and socio-cognitive variables (attitudes, perceived behavioral control and coping/action planning). The fifth study revealed the moderator effect of
psychological morbidity in the relationship between quality of life and tobacco representations. Results
also revealed that less comprehensibility regarding smoking, more threatening emotional tobacco
representations, more behavior beliefs, more perceived behavior control and normative/control beliefs
towards stop smoking discriminated smokers with intention to quit smoking versus those who had no
intention. The sixth study revealed, in smokers, the partner support moderator role in the relationship
between psychological morbidity and quality of life. These results highlight the key role of representations
as predictors of planned behavior to quit smoking. It also highlights the importance of the moderating
role of psychological morbidity and partner support regarding smoking behavior as well as the mediator
role of partner support towards socio-cognitive variables in planned behavior to quit smoking. Therefore,
smoking cessation interventions must include family variables, in particular, partner support, as well as
psychological morbidity, tobacco representations and having a non-smoker partner.

Publicação

Ano de Publicação: 2013

Identificadores

ISBN: 101308809