Processo de ajustamento de estudantes angolanos ao contexto do ensino superior
Elias, Ana Paula Tuavanje
Tese
Tese de doutoramento em Psicologia (ramo de conhecimento em Psicologia Vocacional)
O ajustamento dos estudantes ao contexto do ensino superior tem mostrado
ser um fenómeno com implicações relevantes no processo de ensino/aprendizagem.
Cabe assim à Universidade considerar esta problemática e adotar critérios e
desenvolver ações que facilitem a adaptação dos estudantes à nova condição
académica. Esta investigação tem por objetivo contribuir para a compreensão dos
processos de ajustamento ou adaptação académica dos alunos do ensino superior,
a partir de uma perspetiva sociocognitiva da carreira (Lent, 2004; Lent, Taveira,
Sheu & Syngley, 2009). Nesse sentido, procurou-se validar uma medida e um
modelo estrutural de ajustamento académico no contexto do ensino superior
angolano, bem como caraterizar o processo de ajustamento académico de alunos
universitários angolanos e analisar diferenças individuais, em função de sexo, etnia,
ano escolar, especialidade académica e instituição de ensino superior.
A amostra global é constituída por 317 participantes, sendo 165 (49,7%)
mulheres e 152 (45,8%) homens, com uma média de 170 (51,2%) residem em
Luanda e pertencem maioritariamente à etnia Kimbundo (n = 74, 43,5%); 147
(44,3%) residem na província do Lubango e pertencem a etnia maioritariamente dos
Umbumdos (n = 57, 38,8%) e Nhaneca Humbe (n = 30, 20,4%). Os alunos
frequentam os primeiros três anos de graduação, sendo 199 do 1º, 96 do 2º e 22 do
3º e distribuem-se pela Universidade Óscar Ribas, privada (n = 170) e pelo Instituto
Superior de Ciências da Educação, público (n = 147).
O instrumento utilizado na recolha dos dados foi o Questionário de
Ajustamento Académico (QAA), desenvolvido por Lent (2004) e adaptado para a
população portuguesa por Lent e Taveira (2004). Os resultados do estudo dos itens indicam a existência de boas qualidades
métricas. O estudo da consistência interna das subescalas do QAA indica níveis
aceitáveis para todas as subescalas, (α de Conbach Min. = .72, Máx. = .87), à
exceção da subescala Stress Percebido (α = .20). O estudo da validade do construto
(Análise Fatorial Confirmatória) do questionário indica que um modelo de medida com seis fatores se ajusta aos dados de modo satisfatório [n = 241, X2 (89) = 115.54,
p < .05, CFI .98, RMSEA = .04, SRMR = .04]. Os fatores são a autoeficácia, o
alcance e avanço em objetivos, recursos/apoios percebidos, o afeto situacional, a
satisfação académica, e a satisfação com a vida em geral.
Os resultados da análise descritiva dos resultados da amostra global, indica a
existência de um perfil de ajustamento académico positivo e de diferenças
interindividuais em uma ou mais dimensões, em função do sexo, etnia, ano escolar,
especialidade académica e instituição do ensino superior.
Por sua vez, os resultados do teste ao modelo estrutural de ajustamento
académico proposto por Lent (2004), indicam um bom ajustamento do modelo aos
dados do contexto angolano [n=256, CFI=0.978, RMSEA=0.090, X2 (4) = 12.2].
Todas as trajetórias são estatisticamente significativas, com o modelo estrutural a
explicar 45% da variância da satisfação académica e 13% da variância da satisfação
com a vida geral.
De forma geral, os resultados obtidos indicam que a versão portuguesa do
Questionário de Ajustamento Académico proposto por Lent (2004) é uma medida
válida para a investigação deste processo no contexto académico angolano. Os
resultados vão também ao encontro dos resultados prévios obtidos com o modelo
normativo de bem-estar de Lent (2004), evidenciando que se trata de uma
perspetiva teórica importante para explicar a satisfação académica e a satisfação
com a vida em geral dos estudantes do ensino superior, em diferentes culturas e
etnias. Podemos concluir ainda que existem diferenças individuais no processo do
ajustamento académico que devem ser atendidas na intervenção dos serviços de
carreira e aprofundadas em investigação futura que tenha em consideração as
limitações do presente estudo.
The academic adjustment of students in higher education has important
implications in the teaching/learning process. It is then up to the University to
consider this issue and adopt criteria and develop actions to facilitate the adaptation
of students to the new academic condition. This study was designed to contribute to
the understanding of the process of academic adjustment or adaptation of college
students, from a career socio-cognitive perspective (Lent, 2004; Lent, Taveira, Sheu
& Syngley, 2009). In that sense, we sought to validate a measure and to analyse the
plausibility of the structural model of well-being in academic normative situations
proposed by Lent (2004) with data from Angolan college students. We also intend to
charaterize the process of academic adjustment of Angolan students and to analyse
interindividual differences in that process by sex, ethnicity, college year, academic
specialization, and higher education institution.
The sample includes 317 participants, 165 (49.7%) women and 152 (45.8%)
men, with a mean age of 25.83 years (N = 303, SD = 7. 55). Of these, 170 (51.2%)
reside in Luanda and are mostly belonging to ethnic Kimbundo (n = 74, 43.5%), while
147 (44.3%) reside in the province of Lubango, and belong to ethnic Umbumdos (n =
57, 38.8%) and Nhaneca Humbe (n = 30, 20.4%). Students attending the first three
years of graduation, with 199 in the first year, 96 in the second and 22 in the third
year, at the private University of Óscar Ribas (n = 170) and at the public Higher
Institute of Educational Sciences (n = 147).
The instrument used for data collection was the Academic Adjustment
Questionnaire developed by Lent (AAQ, Lent, 2004) and adpted to Portuguese
context by Taveira and Lent ( 2004).
The results of the study of AAQ items indicate the existence of good
psychometric properties. The analysis of the internal consistency of the AAQ
subscales (Cronbach α) indicates the existence of acceptable levels for all subscales
(Cronbach α Min = .72, Max = .87), but for Perceived Stress subscale (α = . 20). The
analysis of construct validity of AAQ (Confirmatory Factorial Analysis) indicates that a
model of six factors adjusts satisfactorily to the Angolan data [n = 241, X2 (89)=115.54, p <.05, CFI = .98, RMSEA = .04, SRMR = .04]. The factors are selfefficacy,
goal progress, perceived resources and supports, situational affect,
academic satisfaction, and overall life satisfaction. Descritive results of Descriptive
analysis results in the global sample indicate that the profile of academic adjustment
is positive and that there are interindividual differences in this process, in one or
more dimensions, as a function of sex, ethnicity, school year, academic
specialization and higher education institution. .
The results of the test of the structural model of academic adjustment
proposed by Len (2004) (Path Analysis), indicate a good fit of the model to the data
of Angolan context [n=256, CFI=0.978, RMSEA = 0.090, X2 (4)=12.2]. All paths were
statistically significant, with the structural model explaining 45% of the variance of
academic satisfaction and 13% of the variance of overall life satisfaction.
In general, the results indicate that the Portuguese version of the Academic
Adjustment Questionnaire proposed by Lent (2004) is a valid measure for the
investigation of this process in the Angolan academic context. The results are
consistent with previous results obtained with Lent (2004) well-being normative
model, evidencing that this is an important theoretical perspective to explain
academic satisfaction and overall satisfaction with life of college students of different
cultures and ethnicities. We can also conclude that the profile of academic
adjustment of our global sample is positive and that there are individual differences in
that academic adjustment process that must be considered in the design of career
interventions and in future research that takes into account the limitations of the
present study.