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Problemas emocionais, comportamentais e de realização escolar : concepções de professores do Ensino Básico

Problemas emocionais, comportamentais e de realização escolar : concepções de professores do Ensino Básico

Marinho, Susana Cristina Rodrigues Ferreira de Sousa Moreira

| 2011 | URI

Tese

Tese de Doutoramento em Psicologia (especialização em Psicologia da Educação)
Os problemas emocionais, de comportamento e de realização escolar constituem um
campo de estudo que tem sido alvo de intensa investigação, cujas origens remontam a modelos
de tipo clínico-patológico, tradicionalmente associados à área das perturbações emocionais e
comportamentais e às dificuldades de aprendizagem. Neste trabalho, procura-se perceber as
percepções de professores portugueses do 2º e 3º ciclo do Ensino Básico acerca dos
comportamentos problemáticos em sala de aula, em função do género e experiência dos
professores e da idade dos alunos, numa perspectiva mais dimensional do que categorial,
reflectida na utilização de uma metodologia de recolha e análise de dados mista e sequencial
(qualitativa-quantitativa).
Na primeira fase do trabalho foi conduzido um estudo exploratório, através de entrevistas
a treze professores de uma Escola de 2º e 3º Ciclo. A partir da análise do discurso dos
professores, orientada pelos princípios da “grounded theory”, alcançou-se um conjunto de
domínios e categorias representativas do fenómeno em estudo. Verificou-se a referência
sistemática a comportamentos disruptivos, de tipo externalizado, como sendo os mais
perturbadores da sala de aula. Os problemas emocionais, ainda que valorizados, são
considerados como difíceis de identificar. Foi ainda reconhecida, pelos professores, uma
associação relevante entre comportamentos problemáticos e realização escolar, sendo as causas
dessa relação imputadas, na generalidade, a factores intrínsecos (défices, perturbações) ao
aluno e/ou a factores externos à escola e à sala de aula. De acordo com os professores, a
comorbilidade entre problemas emocionais, comportamentais e de sub-realização académica,
poderá resultar em sérios problemas de ajustamento social futuro.
Numa segunda fase do estudo empírico, os comportamentos de carácter externalizado e
internalizado que emergiram do discurso dos professores foram convertidos em itens de uma
escala de comportamentos problemáticos em sala de aula (ECPSA), que viria a ser administrada
a um número alargado de professores (n = 22), abrangendo 22 turmas (n = 509 alunos). A
ECPSA revelou uma estrutura bifactorial e boas qualidades de validade e consistência interna.
Da análise das relações entre as variáveis do estudo, verificou-se que o género do
professor não parece estar correlacionado com a manifestação de comportamentos
problemáticos, ao contrário da experiência do professor, que surgiu relacionada com a
percepção de uma menor ocorrência de problemas emocionais e de comportamento, mais
frequentes nos anos de escolaridade terminais (fim de ciclo). A idade dos alunos surgiu
igualmente associada à percepção de manifestação de comportamentos problemáticos. Rapazes
e raparigas não parecem diferenciar-se, significativamente, nos comportamentos internalizados,
mas os rapazes são percepcionados como exibindo um número significativamente superior de
comportamentos de tipo externalizado.
Foi ainda realizada uma análise de “clusters” a partir dos dados comportamentais e de
realização académica, da qual emergiram quatro sub-agrupamentos de alunos: ajustados, subrealizadores
problemáticos, sub-realizadores internalizados e sub-realizadores sem problemas de
comportamento.
Research on emotional and behavioral problems and academic achievement has
received an increased attention in the specialized literature. Its origins, relying on medical
conceptual models, are often associated to emotional and behavioral disorders and learning
disabilities. The purpose of this work was to study high school Portuguese teachers‟ perceptions
about classroom problematic behaviors, considering teachers‟ gender, teachers‟ experience and
students‟ age. A dimensional rather than categorical approach was assumed, highlighted by a
mixed and sequential methodology design (qualitative-quantitative).
The first stage of this work consisted in a systematic collection of data and in data
analysis from thirteen teachers‟ interviews, rooted in grounded theory. Some key concepts about
problem behaviors and academic achievement, as well as domains and categories, emerged
from teachers‟ interviews. Disruptive and externalized behaviors were often referenced by
teachers; internalized behaviors, although referenced by teachers, were not so easily recognized.
Teachers also seemed to be aware of a strong association between behavioral and emotional
problems, and academic underachievement. These problems are perceived as intrinsic to
subjects or result from events external to classrooms and schools (e. g. family factors). According
to teachers, serious social adjustment problems may result from the association of emotional,
behavioral and academic achievement problems.
From these data, a classroom problems‟ behavior scale (CPBS) was developed and
administered to a larger group of teachers (n = 22), involving 509 students. A two factors
structure (internalized and externalized dimensions) was found for CBPS and satisfactory levels of
validity and internal consistency. Results on CPBS show that teachers‟ gender does not correlate
to students‟ problem behaviors, but experienced teachers seem to perceive less emotional and
behavioral problems in the upper school grades. Students‟ age is associated to behavior
problems‟ perceptions. No significant differences between boys and girls on internalized
problems were reported, but boys show significantly higher rates of perceived externalized
behaviors.
Finally, a cluster analysis of school behaviors and academic outcomes was performed.
Four clusters emerged from this analysis: adjusted (normal students); problematic
underachievers (underachievers with emotional and behavior problems); internalized
underachievers (underachievers with emotional problems); underachievers with no behavior
problems.

Publicação

Ano de Publicação: 2011