Ajustamento psicológico e relacionamento conjugal em casais na gravidez e pós-parto
Canário, Ana Catarina Miranda
Tese
Tese de Doutoramento em Psicologia (área de especialização em Psicologia Clínica)
Objetivos: Este estudo teve como objetivos avaliar (1) as trajetórias dos sintomas de
ansiedade e de depressão, e das dimensões positiva e negativa da relação com o companheiro
desde o início da gravidez até aos 30 meses pós-parto, avaliando os efeitos de tempo, género e
paridade, e considerando a interdependência das variáveis dependentes ao nível do casal; e (2) a
associação entre as trajetórias das dimensões positiva e negativa da relação com o companheiro e
dos sintomas de ansiedade e de depressão ao longo da transição para a parentalidade, avaliando
o efeito de género, e controlando o efeito de paridade.
Método: 260 casais (N = 520) recrutados no serviço de obstetrícia de um hospital
(Portugal) preencheram medidas autorrelato de ansiedade e de depressão, e de qualidade do
relacionamento conjugal em cada trimestre de gravidez, no parto, aos três e aos 30 meses pósparto.
Curvas diádicas de crescimento segmentadas foram realizadas através de modelos
multinível.
Resultados: Desde o primeiro trimestre de gravidez até aos três meses pós-parto verificouse
a diminuição dos sintomas de ansiedade e de depressão, e das dimensões positiva e negativa
da relação com o companheiro. Entre os três e os 30 meses pós-parto, verificou-se o aumento dos
sintomas de ansiedade e de depressão, e da dimensão negativa da relação com o companheiro,
enquanto a dimensão positiva da relação com o companheiro diminuiu. Em mulheres e
participantes multíparos verificou-se a diminuição da dimensão positiva da relação com o
companheiro, e em participantes primíparos a diminuição da dimensão negativa da relação com o companheiro, entre o primeiro trimestre de gravidez e os três meses pós-parto. Em participantes
primíparos verificou-se uma diminuição mais pronunciada na dimensão positiva da relação com o
companheiro, e em mulheres multíparas um aumento mais pronunciado dos sintomas de
ansiedade e de depressão entre os três e os 30 meses pós-parto. Durante este período verificou-se
ainda que homens com menor dimensão positiva da relação com a companheira apresentaram
um aumento mais pronunciado dos sintomas de ansiedade, e que mulheres e homens com
elevada dimensão negativa da relação com o(a) companheiro(a) apresentaram um aumento mais
pronunciado dos sintomas de depressão. Os sintomas de ansiedade e de depressão, assim como
as dimensões positiva e negativa da relação com companheiro demonstraram estar
correlacionados ao nível da díade.
Conclusão: O período compreendido entre o primeiro trimestre de gravidez e os três
meses pós-parto revelou ser um período de ajustamento psicológico, enquanto o período
compreendido entre os três e os 30 meses pós-parto demonstrou ser um período de risco
psicológico. Ao longo da transição para a parentalidade verificou-se ainda a deterioração da
qualidade da relação conjugal. Os programas de prevenção e intervenção com vista à redução do
risco psicológico e da deterioração da qualidade da relação conjugal ao longo da gravidez e pósparto
beneficiariam da inclusão de ambos os elementos do casal, mulheres e homens, primíparos
e multíparos, atendendo aos desafios particulares da transição de acordo com o género e a
paridade, e da atribuição de particular atenção ao período posterior aos três meses pós-parto. Mais
ainda, os programas de intervenção no âmbito da sintomatologia ansiosa e depressiva de
mulheres e homens beneficiariam da promoção da qualidade do relacionamento conjugal.
Aims: The purposes of this study were to analyze (1) the trajectories of change for anxiety
and depressive symptoms, and positive and negative partner relationship from early pregnancy to
30-months postpartum, assessing time, gender and parity effects, and considering partner’s
interdependence on the outcome variable; and (2) the association between the trajectories of
positive and negative partner relationship, anxiety and depressive symptoms over the transition to
parenthood, assessing gender effects, while controlling for parity.
Method: 260 couples (N=520) recruited from an Obstetrics Out-patient Unit (Portugal)
completed self-report measures of anxiety and depression, and partner relationship quality at each
pregnancy trimester, childbirth, 3- and 30-months postpartum. Using multilevel modeling,
piecewise dyadic growth curve models were performed.
Results: From the first trimester of pregnancy to 3-months postpartum anxiety and
depressive symptoms, and positive and negative partner relationship decreased. From 3- to 30-
months postpartum anxiety and depressive symptoms, and negative partner relationship increased,
whereas positive partner relationship decreased. Women and multiparous parents presented a
decrease in positive partner relationship, and primiparous parents a decrease in negative partner
relationship from the first trimester to 3-months postpartum. Primiparous parents presented a
steeper decrease in positive partner relationship, and multiparous women a steeper increase in
anxiety and depressive symptoms from 3- to 30-months postpartum. Moreover, over this period,
men’s anxiety symptoms showed a steeper increase when they had low positive partner relationship, and both women’s and men’s depressive symptoms presented a steeper increase
when they reported high negative partner relationship. Anxiety and depressive symptoms, and
positive and negative partner relationship were correlated within-dyad.
Conclusions: From the first trimester to 3-months postpartum psychological adjustment
was enhanced, whereas from 3- to 30-months postpartum the risk for psychological symptoms
increased. Partner relationship quality deteriorated over the transition to parenthood. Prevention
and intervention programs aimed at reducing the risk of psychological symptoms and partner
relationship quality deterioration over pregnancy and the postpartum period would beneficiate from
including both partners, women and men, primiparous and multiparous, attending to the specific
challenges posed by these periods according to gender and parity, and by devoting particular
attention to the period after 3-months postpartum. Additionally, intervention programs targeting
women’s and men’s anxiety and depressive symptoms during the transition to parenthood would
beneficiate from enhancing partner relationship quality.
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através de uma bolsa de investigação (SFRH/BD/50241/2009).