Intervenção local com crianças e famílias face à pandemia COVID-19: ProChild CoLAB em Guimarães
Sarmento, Manuel Jacinto
;Trevisan, Gabriela
;Grangeia, Helena
;Sousa, Marlene Patrícia Monteiro
;Oliveira, Inês Guedes de
;Pinto, Adelina Paula
; Sampaio, Adriana; Figueiredo, Bárbara;Bento, Gabriela
;Carvalho, Mariana Rodrigues
; Freire, Teresa; Matos, Marlene; Soares, IsabelCapítulo de Livro
[Excerto] A pandemia COVID-19 desenvolveu-se em Portugal, a partir de março de 2019, de forma acelerada, obrigando a adaptações muito rápidas das entidades públicas, dos serviços, das empresas e dos/as cidadãos/ãs, com vista a conter os seus efeitos sanitários, sociais e económicos. A incerteza que carateriza a sociedade contemporânea, em muitos dos seus domínios e setores, apresentou-se, desta vez, sob a forma microscópica de um vírus, capaz de, por si só, obrigar à alteração, com caráter de urgência, de hábitos consolidados, formas de sociabilidade ancestrais, planos e projetos de existência maduramente estabelecidos.
Todos os setores da sociedade foram atingidos pela pandemia. No entanto, foram-no de forma distinta, em função das condições de desigualdade e de diversidade da
estrutura social. Também essas diferenças se manifestaram no que respeita às gerações
e etapas da vida. O vírus ataca de forma e com efeitos diferenciados as pessoas idosas,
as pessoas adultas e as crianças. No caso da geração mais jovem, o impacto da pandemia manifestou-se a vários níveis: os quotidianos escolares foram substituídos por
aprendizagens realizadas no espaço doméstico, com apoio televisivo e das ferramentas
informáticas; o convívio familiar rotineiro ampliou-se em cada 24 horas, pela presença
dos/as pais/mães no horário de trabalho, em situação de teletrabalho, de lay-off ou desemprego; a relação intergeracional com avôs/avós e parentes mais velhos/as viu-se subitamente interrompida, sob a ameaça da contaminação; a confraternização e a brincadeira entre pares deu lugar ao isolamento e à solidão, ou a interações visuais pelo telemóvel
ou nas redes sociais; o espaço público foi condicionado em período de confinamento e
não só os parques infantis foram encerrados, como a invisibilidade social das crianças
ganhou uma expressão direta no esvaziamento das cidades, de repente despojadas dos
seus munícipes mais jovens; algumas crianças, em situação de maior vulnerabilidade,
sofreram diretamente os efeitos psicológicos, sociais e económicos da pandemia: tornaram-se mais expostas aos impactos na saúde mental das respetivas famílias, perderam,
nalguns casos, o contacto com os/as professores/as e as escolas, nomeadamente pelo facto de não possuírem meios eletrónicos de contacto e sofreram carências alimentares por empobrecimento dos/as pais/mães. [...]