No âmbito do projeto IntersectVAW&DV. Exploring Intersectionality of Violence Against Women and Domestic Violence: Needs, Impact and Services Effectiveness, financiado pelo Observatório Social da Fundação ”la Caixa”, a investigadora Mariana Gonçalves liderou um estudo sobre os Desafios, competências e qualidade de vida dos profissionais que prestam apoio a vítimas de experiências de trauma e violência em Portugal.
O projeto, que envolveu entrevistas a 715 pessoas com uma história de vitimação, incorporou um estudo sobre os profissionais que trabalham no apoio a vítimas de violência doméstica e trauma. Um questionário online foi enviado a todas as instituições da rede nacional tutelada pela Comissão para Cidadania e a Igualdade de Género (CIG) e, por essa via, a equipa obteve a amostra significativa que envolveu 503 profissionais.
91% das pessoas que trabalham no apoio a vítimas de violência doméstica e trauma são mulheres, trabalham em diferentes áreas (psicossocial, saúde, justiça) e prestam apoio sobretudo a vítimas de violência doméstica (76%) e de abuso sexual (38%), mas também de assédio sexual, assédio laboral, mutilação genital feminina e tráfico de seres humanos.
Muitas profissionais reportam maior dificuldade em trabalhar com vítimas de minorias culturais, com destaque para migrantes (52%) e para pessoas de etnia cigana (49%). Uma parte considerável reconhece dificuldade em trabalhar com pessoas idosas (53%), menos favorecidas (35%), transgénero (30%), do género masculino (26%), não-binárias (23%), homossexuais (20%).
Os inquiridos no estudo mencionam obstáculos de dois tipos: institucionais e culturais. No primeiro caso, apontam para o problema do acesso a serviços de tradução (44%), a falta de supervisão (39%), a escassez de recursos financeiros (31%), a ausência de formação actualizada (23%), a insuficiência de articulação (21%). No segundo, aludem às barreiras linguísticas (67%), à imprevisibilidade das situações (49%), à dificuldade de estabelecer relações de confiança (45%) e de compreender diferentes contextos culturais (42%).
Os resultados vêm dar visibilidade às dificuldades que os profissionais encontram no terreno e apontam a importância de que haja uma especialização por parte dos profissionais sobre como lidar com pessoas expostas ao trauma, isto melhoraria a qualidade do atendimento, as respostas de apoio e diminuiria a revitimização no sistema. Mariana Gonçalves refere que as instituições não são capazes de proporcionar todas as oportunidades de formação de que os profissionais precisam e a formação que existe é pontual e muitas vezes depende da proactividade dos profissionais.
A investigadora do CIPsi salienta que esta é uma área profissional exigente, com elevada precariedade, baixo salário e pouca perspectiva de progressão na carreira. E que estas pessoas lidam com falta de recursos e com casos complexos, que não raras vezes exigem envolvimento emocional, amiúde em detrimento da vida pessoal.
Para ler a notícia completa: