Aprendizagem cooperativa e autonomia em contexto escolar: um estudo no ensino básico
Gonçalves, Teresa
Thesis
Tese de doutoramento em Psicologia (ramo do conhecimento em Psicologia da Educação)
A aprendizagem cooperativa, particularmente ao longo das últimas quatro
décadas, tem vindo a constituir-se como uma abordagem pedagógica particularmente
consistente e bem sucedida. As investigações realizadas atribuem à aprendizagem
cooperativa ganhos na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo, social e
motivacional dos alunos, numa grande variedade de contextos educativos, disciplinas,
e níveis de escolaridade (Johnson & Johnson, 2009; Sharan, 2010; Smith, 2011).
Neste modelo pedagógico, são valorizados os processos inerentes à ação e interação
dos alunos, de acordo com algumas das tendências mais salientes da investigação em
psicologia educacional (Zimmerman & Schunk, 2003a).
Contudo, apesar das vantagens, consistentemente documentadas nos estudos,
a aprendizagem cooperativa continua a ser uma opção pouco frequente nas escolas
portuguesas, em que a administração do sistema educativo e a cultura escolar
predominante continuam a favorecer um ensino de índole marcadamente transmissiva,
em que a cooperação, autonomia e ação construtiva dos alunos são insuficientemente
valorizadas, solicitadas e promovidas (Mesquita, Formosinho, & Machado, 2012; Paro,
2011a), em contradição com as competências e aprendizagens requeridas para o
século XXI (Dede, 2010; Trilling & Fadel, 2009).
Procurando acompanhar as tendências referidas e fazer face aos problemas
educativos detetados, o presente trabalho de investigação consistiu em implementar,
uma intervenção baseada na aprendizagem cooperativa e na promoção da autonomia.
Partindo desta base programática, foi elaborado e concretizado um projeto de
formação de professores tendo em vista preparar a intervenção e recorreu-se a uma
implementação flexível e colaborativa, em consonância com a teoria da complexidade
(Davis & Sumara, 2008; Starkey, 2012) e o modelo metodológico da investigação de
design educacional (Reeves, Mckenney, & Herrington, 2011).
A avaliação da intervenção efetuou-se com recurso a métodos qualitativos. O
estudo incidiu sobre duas turmas do 2.º ciclo do ensino básico (56 alunos) e os
principais objetivos consistiram em descrever e compreender os processos de implementação da intervenção em sala de aula, ao longo de dois anos letivos, nas
vertentes da estruturação das atividades, das interações dos professores, dos
comportamentos e interações dos alunos, bem como das relações entre estes fatores.
Como fontes de dados, foram utilizados documentos elaborados no decurso da
implementação da intervenção, tais como atas, relatórios e produtos do trabalho de
professores e de alunos, bem como observação direta e registos audio-visuais de
aulas e de outras atividades escolares extraletivas.
A análise dos resultados permitiu concluir que os professores implementaram a
intervenção de forma adaptativa, aplicando os princípios essenciais da aprendizagem
cooperativa. Os alunos corresponderam à ação dos professores, manifestando
comportamentos e interações de cooperação, inclusão e autonomia. Os projetos e
trabalhos concretizados em grupos cooperativos constituíram ocasião para exercitar e
desenvolver múltiplas competências e aprendizagens.
Em linha com alguns estudos sobre sistemas educativos de sucesso (Darling-
Hammond, 2010; Sahlberg & Hargreaves, 2011), este estudo contribui para confirmar
que a revalorização da autonomia dos professores, em conjunção com a deslocação
de papéis transmissivos para papéis mais facilitadores de uma aprendizagem ativa e
cooperativa, podem favorecer, nos alunos, o desenvolvimento de comportamentos e
atitudes de maior autonomia, cooperação e inclusão.
Cooperative learning, particularly over the last four decades, has evolved as a
pedagogical approach particularly consistent and successful. Investigations assign to
cooperative learning several advantages for students, relatively to cognitive, social and
motivational gains, in a variety of educational contexts, disciplines, and grade-levels of
schooling (Johnson & Johnson, 2009a; Y. Sharan, 2010b; Slavin, 2010). In this
pedagogical model, processes inherent to students' agency and interaction are valued,
according to some of the most salient trends of research in educational psychology
(Zimmerman & Schunk, 2003a).
However, despite these advantages, consistently documented in studies,
cooperative learning remains an option rarely used in portuguese schools, where the
administration of the educational system and school cultures continue to favour a
teaching model predominantly transmissive in which, cooperation, autonomy and
constructive action of the students are insufficiently valued, sought and promoted
(Mesquita et al., 2012; Paro, 2011a), in contradiction with the learning skills required for
the twenty-first century (Dede, 2010; Trilling & Fadel, 2009).
Following these trends and addressing the educational needs detected, the
present study consists of implementing an intervention based on cooperative learning
and promotion of students' autonomy. On this programmatic basis, a training project for
teachers, in order to prepare the intervention, was developed and implemented, in
accordance with a flexible and collaborative implementation model, consistent with
complexity theory (Davis & Sumara, 2009; Starkey, 2012) and the "educational design
research" model (Reeves et al., 2011).
The evaluation of the intervention, was carried out using qualitative methods. In
this study, focusing on two classes of the 5th and 6th grades of elementary education
(56 students, aged 10 to 12), the main objective consisted of describing and
understanding the processes of implementation of the intervention, during two
academic years, concerning the structuring of activities, interactions of teachers,
students' behaviours and interactions, and the connections between these factors. As data sources, documents produced in the course of the implementation, such as
minutes, reports and work products of teachers and students were used, as well as
direct observation and audio-visual records of classes and other school activities.
Observations evidenced that the teachers implemented the intervention in an
adaptative manner, while respecting the basic principles of cooperative learning.
Students corresponded with behaviours and interactions of cooperation, inclusion and
autonomy. The projects and activities in cooperative learning groups represented
opportunities for the exercise and development of multiple social and cognitive skills.
In line with some studies about successful educational systems (Darling-
Hammond, 2010; Sahlberg & Hargreaves, 2011), this study helps to confirm that the
revalorisation and autonomy of teachers, in conjunction with a shift of emphasis from a
transmission paradigm (and students' passivity), to roles as facilitators guiding active
and cooperative learning, encourages the development of autonomous, cooperative
and inclusive behaviours, on the part of the students.