O contributo das experiências familiares, vinculação e apoio social para a depressão no adulto
Monteiro, Ivandro Soares
Thesis
Tese de doutoramento em
Psicologia Clínica
CONTEXTO: A literatura evidencia que a vulnerabilidade ou resiliência à psicopatologia
depressiva no adulto é diminuída ou aumentada consoante o grau de adversidades ao longo do
desenvolvimento e as características actuais e rede de apoio social. A partir das investigações
que evidenciaram uma relação entre experiências adversas ao longo do desenvolvimento e
depressão no adulto, este trabalho é guiado pelo seguinte problema: haverá relação entre a
história de experiências interpessoais familiares vividas ao longo do desenvolvimento,
características actuais (estilo de vinculação adulto e apoio social) e depressão na idade adulta?
Se sim, qual? OBJECTIVOS: O presente trabalho procura testar uma perspectiva de diátesestress
sobre as variáveis do desenvolvimento e características actuais, analisando entre estas as
que permitem compreender a etiologia e processo de desenvolvimento da vulnerabilidade à
depressão no adulto. Para o efeito, o trabalho assenta sob dois aspectos nucleares,
nomeadamente no tipo e qualidade das experiências de cuidado ao longo do desenvolvimento e
nas características actuais de vinculação e de apoio social. Para além deste primeiro objectivo,
procura-se também determinar se as características actuais (vinculação e apoio social) são
mediadoras entre as experiências familiares ao longo do desenvolvimento e o humor depressivo.
MÉTODO: Para a concretização destes objectivos, realizaram-se quatro estudos: 1º) o primeiro
estudo, com estudantes universitários, faz uma avaliação das características de um instrumento
sobre as experiências tidas na família-de-origem e a sua relação com o humor depressivo,
vinculação e apoio social; 2º) o segundo estudo, com deprimidos, verificou a relação entre as
experiências familiares ao longo do desenvolvimento e o funcionamento actual e a gravidade do
humor depressivo; 3º) o terceiro estudo compara o relato das experiências familiares em sujeitos
deprimidos em dois momentos diferentes; 4º) o quarto estudo comparou as experiências
familiares e as características actuais dos sujeitos “deprimidos” com sujeitos “não-deprimidos”.
RESULTADOS: o primeiro estudo mostrou que o Instrumento do Historial Familiar apresenta
uma validade factorial e consistência interna adequadas, com valores de alfas elevados, pelo que
se revelou um adequado instrumento para a investigação. Neste primeiro estudo, confirma-se
que piores cuidados familiares estão associados a maiores índices de humor depressivo,
dimensões de vinculação mais inseguras e relato de menor apoio social. Também se verificou
que os cuidados familiares são moderados pelas características actuais. O segundo estudo, com deprimidos, confirmou que quanto mais insegura é a vinculação e menor o apoio social, maior o
humor depressivo em sujeitos deprimidos. O terceiro estudo, que compara os relatos das
experiências de infância realizados com um intervalo de um ano, evidencia que o relato das
experiências familiares não é influenciado pelo estado de humor depressivo, o que confirma uma
adequada confiabilidade do Instrumento do Historial Familiar. O quarto e último estudo mostra
que existem diferenças nas experiências familiares ao longo do desenvolvimento relatadas por
sujeitos “deprimidos” quando comparados com sujeitos “não-deprimidos”, sendo que as
experiências de cuidado são mais inadequadas no grupo “deprimidos”. Este estudo evidencia
ainda que os “deprimidos” têm valores mais elevados nas dimensões de vinculação inseguras e
menor apoio social em relação aos “não-deprimidos”. CONCLUSÕES: Na sua maioria, os
resultados obtidos suportam empiricamente a revisão da literatura efectuada. Os resultados
apontam para a ideia de que o humor depressivo pode ter uma diátese (medido pela qualidade
das experiências familiares ao longo da infância e adolescência) mas são as características
actuais (vinculação e apoio social), que mais explicam o humor depressivo na idade adulta. A
natureza dessas experiências pode aumentar a vulnerabilidade à depressão. A etiologia da
depressão é de natureza multifactorial, sendo que é a combinação entre a história das
experiências acumuladas na interacção com o mundo com os contextos actuais de vida que
tornam o indivíduo resiliente ou vulnerável à depressão.
BACKGROUND: The literature shows that the vulnerability or resilience to depression in adults is
reduced or increased depending on the degree of adversity in the development and current
characteristics and social support network. However, despite the investigations which show a a
relationship between adverse experiences during the development and depression in adults, this
work is guided by one major problem: is there a relationship between family history of
interpersonal experiences along the development, current psychological characteristics (style of
adult attachment and social support) and depression in adulthood? If so, what experiences are
more related to depression? OBJECTIVES: This research attempts to test a diathesis-stress
perspective, analyzing, among the variables of development, some of which are supposed to
understand the etiology and development process of vulnerability to depression in adults. To this
end, the work is based on two core issues, including the type and quality of home care
throughout the development and current features in the adult (attachment and social support). In
addition to this first objective, we also seek to determine whether the current (attachment and
social support) mediate the relation between family experiences and depressive mood. METHOD:
To achieve these objectives, four studies were made: 1) the first study, with college students,
assesses the characteristics of an instrument about the previous experience in family-of-origin
and its relation to depressive mood, attachment and social support; 2) the second study, with
depressed patients, found the relationship between family experiences in the development and
current functioning and severity of depressive mood; 3) the third study compares the family
experiences reports of depressed subjects at two different times; 4 ) and the fourth study
compared the family experiences and current characteristics between depressed with nondepressed
subjects. RESULTS: The first study showed that the Family background instrument
has an adequate measures of factorial validity and internal consistency, with high alpha values,
which proved to be a suitable tool for research. In this first study it is confirmed that the poorer
family care are associated with higher rates of depressive mood, more dimensions of insecure
attachment and lower social support, and also that family care are moderated by the current
characteristics. The second study, with depressed subjects, confirmed that the more insecure
adult attachment and the lower the adult social support, the more depressed mood in depressed
subjects. The third study, which compares the childhood experiences reports made at an interval of one year, the results shows that the family experiences reports are not influenced by
depressed mood, which confirms an adequate reliability of an instrument of Family History. The
fourth and final study shows that there are differences in family experiences reported by
"depressed" subjects when compared with a paired sample of "non-depressed" subjects, and the
experiences of inadequate care are higher in the "depressed" subjects. This study also shows
that the "depressed" have higher values in the dimensions of insecure attachment and lower
social support when compared with "non-depressed." DISCUSSION: Most of the results
empirically support the literature review carried out. The results point to the idea that humor can
have a depressive diathesis (measured by the quality of family experiences during childhood and
adolescence) but the current features (attachment and social support) are the ones which better
explain depressed mood in adulthood. The nature of these experiences may increase vulnerability
to depression. The etiology of depression is likely multifactorial, and is a combination of the
history of accumulated experience in interacting with the world with the current contexts of life
that make people more resilient or vulnerable to depression.