Post-feminist media, sexual techonologies and the industrialisation of difference
Matoso, Pedro Pinto Sales de Freitas
Thesis
Tese de doutoramento Psicologia (especialidade em Psicologia Social)
Durante a última década, a sociedade portuguesa tornou-se cada vez mais recetiva à proliferação
globalizada de mercados sexuais. Um ‘novo’ aparato de tecnologias do sexo – desde dildos (ou
brinquedos sexuais) a drogas farmacêuticas – incorporou de modo significativo a cultura de consumo e a
produção mediática portuguesa, muito particularmente quando dirigida às mulheres. A ‘feminização’ das
indústrias do sexo é hoje um elemento preponderante na democratização do discurso sexual em Portugal,
se não mesmo o lema central de uma renovada indústria da feminilidade onde os prazeres e os desejos
aparecem cada vez mais liberalizados. Atenta a este processo de transformação histórica e social, esta
tese interroga as políticas do corpo reproduzidas na mediatização portuguesa do consumo sexual
conjugado no feminino. Conceptualmente apoiada sobre epistemologias feministas e queer, a pesquisa
recorre uma metodologia Foucaultiana marcadamente genealógica para desmontar os discursos de uma
indústria mediática com características muito particulares: revistas para mulheres e raparigas
adolescentes. De acordo com esta premissa, a tese desenvolve-se em quatro estudos empíricos. Por um
lado, estes são genericamente focados nos mercados da diferença sexual, tal como definidos nesta tese,
e mais especificamente com a sua ação prescritiva sobre os corpos e as subjetividades. Por outro lado,
as minhas análises sugerem uma racionalidade distintamente neoliberal – aqui definida como pósfeminista
– que traduz transversalmente a autodeterminação dos sujeitos em consumismo,
autopoliciamento e na permanente necessidade de reconstrução de si. O primeiro estudo debruça-se
sobre a democratização portuguesa das tecnologias sexuais – ‘dildocracia’ – e apresenta o pósfeminismo
enquanto ideal biopolítico dominante que privilegia imperativos farmacológicos e
pornográficos. O segundo estudo analisa a construção mediática das subjetividades sexuais das
raparigas, ao mesmo tempo teorizando a hermenêutica pós-feminista da adolescência. O terceiro estudo
desconstrói o poder pós-feminista de normalização e analisa as suas implicações no controlo capitalista
do corpo e das subjetividades das adolescentes. O quarto estudo problematiza a normalização cosmética
da corporalidade das mulheres e conceptualiza o ‘complexo bio’ – um regime discursivo onde as
mulheres são incitadas à incorporação normativa das estéticas de género, bem como de ‘verdades’
sexuais e raciais. Por último, ao produzir uma crítica dosmédia, pós-feministas, esta tese pretende
iluminar as cumplicidades e continuidades biopolíticas entre o pós-feminismo, entendido como modelo de
governamentalidade, e a industrialização capitalista da diferença.
During the last decade, Portuguese society has been increasingly engaged with the global proliferation of
sex industries. A ‘new’ apparatus of sexual technologies – from dildos to pharmaceutical drugs – has
widely incorporated Portuguese consumer culture and popular media texts, especially those addressed to
women. The ‘pinking’ of sexual consumption is today a significant feature in the Portuguese
democratisation of sexual discourse, if not the main motto of renewed markets of femininity where
pleasures and desires appear increasingly liberated. Focused on this social and historical shifting, this
thesis interrogates the politics through which women’s bodies are voiced and produced in the Portuguese
sexual mainstreaming. Whilst supported by feminist and queer epistemologies, the research draws from a
Foucauldian genealogical framework to unpack the discourses of a specific media industry: girls’ and
women’s magazines. Accordingly, the thesis is composed by four empirical studies. One the one hand,
they are broadly concerned with the markets of sexual difference, as called in this thesis, and more
particularly with their scripting of bodies and selves. On the other hand, my analyses suggest a distinctive
neoliberal rationality – which may be best understood as post-feminist – that generally translates subjects’
empowerment into consumerism, self-surveillance and perpetual makeover. The first study addresses the
Portuguese democratisation of sexual technologies – ‘dildocracy’ – and introduces post-feminism as a
dominant biopolitical ideal accorded to pharmacological and pornographic imperatives. The second study
engages critically with the mainstream media’s construction of girl’s sexual subjecthood and theorises the
post-feminist hermeneutics of adolescence. The third study deconstructs the post-feminist power of
normalisation and analyses its implications in the capitalist management of girls’ sexual subjectivities. The
fourth study attends to the cosmetic normalisation of women’s corporeality and theorises the ‘biocomplex’
– a discursive regime in which women are compelled to the gendered embodiment of sexual
and racial ‘truths’. Ultimately, in providing a critique of post-feminist media, this thesis aims to illuminate
the biopolitical complicities and continuities between post-feminist governmentality and the capitalist
industrialisation of difference.