Representações, cuidados de saúde, adesão e repercussões psicológicas na lombalgia crónica : um estudo com doentes em tratamento diferenciado
Roios, Edite Ferreira
Thesis
Tese de doutoramento em Psicologia
(área de especialização de Psicologia da Saúde)
A lombalgia é um fenómeno complexo que representa um problema,
apresentando-se como um quadro multidimensional com repercussões psicossociais
limitativas para os seus doentes.
Pretendeu-se estudar uma população de doentes com lombalgia crónica. A
amostra incluiu 338 doentes sendo 213 no grupo em tratamento quiroprático e 125 no
grupo em tratamento de fisioterapia. Trata-se de um estudo descritivo, correlacional e
transversal que avaliou as representações da doença, a satisfação com os cuidados de
saúde, a adesão e as repercussões psicológicas em doentes com lombalgia crónica em
tratamento diferenciado.
Os instrumentos utilizados foram: Questionário de Satisfação do Utente
(QUASU), Questionário de Representações de Doença (IPQ-R), Questionário das
Crenças acerca dos Fármacos (BMQ), Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar
(HADS), Inventário de Experiências Subjetivas de Sofrimento na Doença (IESSD),
Escala de Atitudes Face aos Médicos e à Medicina (ATDMS), Escala de Adesão aos
Medicamentos (RAM), Questionário de Incapacidade para a Lombalgia (Oswestry Low
Back Pain Questionnaire) e Índice de Relacionamento Familiar (IRF).
Foram testadas cinco hipóteses. A hipótese 1 pretendia conhecer a contribuição
das diferentes variáveis para a Incapacidade Funcional nos dois grupos. Os resultados
revelaram, no grupo em tratamento quiroprático, que maior Intensidade de Dor,
Sofrimento Físico, Sofrimento Existencial e menor Controlo Interno/Pessoal previam a
incapacidade funcional. No grupo em tratamento de fisioterapia, os resultados
demonstraram que maior Idade, Intensidade de Dor, Sofrimento Existencial,
Representações de Identidade da Doença, por um lado, menor Satisfação com os
Cuidados de Saúde (Qualidade Técnica e Acesso aos Cuidados de Saúde), Adesão aos
Medicamentos e Experiência Positiva de Sofrimento, previam a incapacidade funcional.
A hipótese 2 previa que o Relacionamento Familiar fosse moderador na relação
entre Sofrimento e Incapacidade Funcional em cada grupo de tratamento. Os resultados
demonstraram que isso acontecia no grupo a receber tratamento de fisioterapia. Assim,
nas situações em que o Relacionamento Familiar é melhor, a relação entre Sofrimento e
Incapacidade Funcional é mais forte. No grupo em tratamento quiroprático não se
verificou efeito moderador.
A hipótese 3 previa que a variável Sofrimento fosse mediadora na relação entre
Morbilidade Psicológica e Incapacidade Funcional no grupo em tratamento quiroprático e que as Crenças acerca dos Fármacos fossem mediadoras na relação entre Adesão aos
Medicamentos e Incapacidade Funcional no grupo em tratamento de fisioterapia. Os
resultados revelaram que o Sofrimento media a relação entre a Morbilidade Psicológica
e a Incapacidade Funcional, no grupo em tratamento quiroprático e que as crenças de
Uso Excessivo e Efeitos Nocivos dos fármacos são mediadoras na relação entre Adesão
e Incapacidade Funcional mas tal não acontece em relação às crenças sobre
Necessidades e Preocupações Específicas.
A hipótese 4 previa que os doentes com nível alto de Incapacidade Funcional
podiam ser discriminados dos doentes com nível baixo, em cada grupo de tratamento.
No grupo em tratamento quiroprático, os pacientes que apresentaram maior Sofrimento
Existencial, Sofrimento Físico, Experiencia Positiva de Sofrimento e baixo Controlo
Interno/Pessoal pertencem ao grupo de incapacidade funcional alta. Para o grupo em
tratamento de fisioterapia, verificou-se que os pacientes com mais Sofrimento
Existencial, mais Crenças acerca Controlo da Dor (acontecimentos/acaso), menor
Controlo Interno/Pessoal em relação á dor, menor Coerência em relação á doença, mais
Controlo Pessoal e maior Identidade em relação à doença, mais Satisfação com a
Qualidade Técnica e mais Sofrimento Sócio-Relacional, pertencem ao grupo de
incapacidade funcional mais alta.
A hipótese 5 previa diferenças nas representações da doença, crenças acerca do
controlo da dor, atitudes em relação aos médicos e à medicina e, crenças em relação aos
fármacos, nos dois tipos de tratamento. Os resultados mostraram que o grupo em
tratamento quiroprático apresenta representações mais positivas de Controlo Pessoal,
Controlo de Tratamento e de Coerência da Doença quando comparado com o grupo de
fisioterapia. Por sua vez, o grupo em tratamento de fisioterapia apresenta representações
mais negativas de Identidade da doença, Causas, Duração Aguda/Crónica,
Consequências da doença, Duração cíclica e Representação emocional.
As análises exploratórias revelaram que as variáveis sóciodemográficas (idade,
género, nível de escolaridade e estado civil) e clínicas (intensidade de dor, frequência de
dor, estado de saúde atual) apresentam um impacto diferenciado nas variáveis
psicológicas, nos dois tipos de tratamento.
As implicações em termos de intervenção são diversas. Salienta-se a necessidade
de incluir a morbilidade psicológica, o sofrimento, o relacionamento familiar e duma
forma geral, as representações de doença, incluindo o controlo da dor e as atitudes em
relção aos médicos e medicina.
Low back pain is a complex public health problem with multidimensional
features and psicosocial implications that limit, in many areas, patients’ life.
The present study focused on low back pain patients. The sample included 338
patients, 213 were receiving chiropractic treatment and 125 physiotherapy. The study is
descriptive, correlational and transversal and its main goal was to assess Illness
Perceptions, Health Care Satisfaction, Adherence, Psychological Morbidity and
Psychosocial Implications in the two treatment groups.
Several self-report measures were used: Patient Health Care Questionnaire
(QUASU), Illness Perception Questionnaire - Revised (IPQ-R), Beliefs Medicines
Questionnaire (BMQ), Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), Illness
Subjetive Suffering Experience Inventory (IESSD), Attitudes Toward Doctors and
Medicine Scale (ATDMS), Medicines Adherence Scale (RAM), Oswestry Low Back
Pain Questionnaire and the Index of Family Relations (IFR).
Five hypotheses were tested. Hypothesis 1 predicted a contribution of different
variables to functional incapacity in both groups. The results showed, in the chiropractic
treatment, that higher Pain Intensity, Physical Suffering, Existential Suffering and lower
Internal/Personnal Control predicted functional incapacity. In the physiotherapy
treatment, older Age and more Pain Intensity, Existential Suffering, Illness Identity
Representations, and lower Health Care Satisfaction, Medicine Adherence and Positive
Experience of Suffering predicted functional incapacity.
Hypothesis 2 predicted Family Relations to moderate the relationship between
Suffering and Functional Incapacity in each treatment group. The results showed that
happened in physiotherapy group. Thus, when family relations are good, the
relationship between Suffering and Functional Incapacity is stronger. In the chiropractic
treatment group the moderation was not found.
Hypothesis 3 predicted that Suffering mediated the relationship between
Psychology Morbidity and Functional Incapacity in the chiropractic treatment group
and that Believes about Medicines mediated the relationship between Adherence and
Functional Incapacity in the physiotherapy treatment group. Results showed that
Suffering mediated the relationship between Psychological Morbidity and Functional
Incapacity in the chiropractic group and that Excessive Use/ Nocive Effects beliefs
about medicines mediated the relationship between Adherence and Functional Incapacity in the physiotherapy treatment group but that did not happen regarding the
beliefs concerning Specifics Necessities and Concerns.
Hypothesis 4 predicted that patients with high level of Functional Incapacity
could be discriminated from patients with lower level of Functional Incapacity in each
treatment group. In the chiropractic group, patients who presented higher level of
Existential Suffering, Physical Suffering, Positive Experience of Suffering and lower of
Internal/Personal Control were patients with higher levels of Functional Incapacity. In
the physiotherapy group, patients with more Existential Suffering, more Believes about
Pain Control (events/random), lower Internal/Personal Control regarding Pain, lower
illness Coherence, more Personal Control regarding illness, more illness identity, more
satisfaction with Technical Quality and more Socio-Relational Suffering belonged to
the group with high functional incapacity.
Hypothesis 5 predicted differences on illness representations, beliefs regarding
pain control, attitudes towards doctors and medicines, and beliefs regarding medicines
in each type of treatment. Results revealed that patients in the chiropractic treatment
group, showed more positive Personal Control, more Treatment Control, and Illness
Coherence when compared to the physiotherapy group. On the other hand, the
physiotherapy group showed more negative illness representations regarding Illness
Identity, Causes, Acute/Chronic Duration, Consequences, Cyclic Duration and
Emotional Representation.
The exploratory analysis showed that sociodemographic (age, gender, education
level and marital status) and clinical variable (pain intensity, pain frequency, current
health status). Have a different impact on psychological variables in each treatment
group.
There are several implications for intervention. It is important in low chronic
back pain patients, to take in consideration, psychological morbidity, suffering, family
relations, illness perceptions and beliefs about pain control and medicines as well as
attitudes towards doctors and medicine.