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Comportamentos antissociais juvenis: indicadores e formas de manifestação

Comportamentos antissociais juvenis: indicadores e formas de manifestação

Braga, Teresa Alexandra Gavinha

| 2013 | URI

Thesis

Tese de doutoramento em Psicologia (área de especialização em Psicologia da Justiça)
Os comportamentos antissociais juvenis têm suscitado, ao longo de várias décadas,
enorme interesse por parte da comunidade científica. Atualmente, o conhecimento em torno
desta temática é extenso, sendo possível identificar inúmeras direções e disciplinas de análise.
Apesar da vasta atenção que a antissocialidade juvenil tem merecido, as questões que ainda se
colocam quer no contexto português em particular quer no plano internacional em geral
continuam a ser numerosas e de natureza distinta.
A revisão da literatura nacional revela-nos que a visibilidade científica dos
comportamentos antissociais juvenis surgiu mais tardiamente, sendo o nosso investimento
empírico ainda incipiente face ao de outros países. Uma das linhas de pesquisa ainda lacunar
entre nós, mas largamente reconhecida em outros contextos geográficos, refere-se à
caracterização dos indicadores de manifestação deste comportamentos, tais como a prevalência,
a frequência, a versatilidade e a desistência. Observando o panorama internacional,
identificámos duas questões que têm sido alvo de debate e que têm demarcado posições
teóricas acerca da perpetração de atos antissociais. Uma primeira questão diz respeito à
(des)necessidade em desagregar os indicadores de manifestação, sendo discutível se aqueles
estão ou não sujeitos às mesmas influências. A segunda prende-se com o modo díspar como os
comportamentos antissociais têm vindo a ser conceptualizados: síndrome unitária versus
entidades qualitativamente distintas. Assim sendo, neste trabalho procurou-se caracterizar o comportamento antissocial
juvenil, ao nível da sua prevalência, frequência e versatilidade de perpetração e principais
correlatos demográficos. Em paralelo, interessou-nos compreender se os indicadores são
influenciados por fatores similares explorando se aqueles estabelecem relações análogas com as
características demográficas. Por fim, foi nosso propósito examinar se múltiplas formas de
manifestação da antissocialidade representam uma propensão unitária ou, pelo contrário,
subtipos comportamentais verdadeiramente diferenciadas.
Na examinação dos dois primeiros objetivos, 676 jovens foram inquiridos online acerca
do seu envolvimento em atos antissociais, através de um questionário construído para o efeito.
Os resultados mostraram que a esmagadora maioria dos jovens perpetrou comportamentos antissociais, particularmente aqueles de menor gravidade. Apesar da disseminação assinalada,
foi igualmente possível concluir que os comportamentos foram, em geral, praticados de modo
pouco frequente e que os jovens adotaram um reduzido número de distintos atos. Os rapazes e
os jovens mais novos foram os principais envolvidos em grande parte dos atos e foram aqueles a
apresentar superior versatilidade de comportamentos. As características demográficas não se
relacionaram, contudo, com a frequência de perpetração da maioria dos atos. Assim, quanto ao
segundo objetivo, encontrámos algumas evidências de que o sexo e a idade se relacionam de
modo diferencial com os indicadores, o que evidencia a necessidade da sua desagregação para
a compreensão deste fenómeno.
Um segundo estudo, realizado junto de 137 jovens antissociais, abordou a questão da
natureza unitária ou diferenciada de diversos comportamentos. Neste âmbito, explorámos se a
distinção entre atos de conflito com a autoridade, abertos e cobertos melhor apreende o
desenvolvimento de atos antissociais e se esses subtipos comportamentais são preditos de igual
modo e pelos mesmos fatores. Assim, os jovens foram questionados acerca do seu envolvimento
em atos antissociais num intervalo anual e ao longo da sua vida e avaliados em relação a um
leque variado de fatores de risco, com essa última avaliação a preceder, em média, cerca de 5
meses a administração do questionário de autorrelato de comportamentos. A partir deste estudo
foi possível comprovar que a maioria dos jovens não escalou indiferenciadamente entre
comportamentos, mas sim progrediu entre aqueles de natureza similar. Constatou-se igualmente
que os vários domínios de risco não prediziam, no seu conjunto, os atos de conflito com a
autoridade, tal como sucedeu para os comportamentos abertos e cobertos. Contudo os domínios
de risco contribuíram, genericamente, de igual modo na predição desses últimos subtipos. A presente tese reflete a natureza complexa e multifacetada do comportamento
antissocial juvenil e apresenta alguns desafios futuros para a investigação, tal como se enfatiza
na conclusão.
Over several decades, juvenile antisocial behaviors have elicited enormous interest
among the scientific community. Currently, knowledge on this subject is extensive, and it is
possible to identify several courses and fields of analysis. Despite the attention that juvenile
antisocial behavior has deserved, numerous and distinct issues still arise whether in the
Portuguese context in particular or at the international level in general.
The review of national literature reveals that the scientific visibility of juvenile antisocial
behaviors occurred later on, and our empirical investment is incipient compared to that of other
countries. One line of research still lacking between us, but widely recognized in other geographic
sites, refers to the characterization of dimensions of these behaviors, such as prevalence,
frequency, versatility, and desistance. Noting the international context, we identified two issues
that have been under debate and that have divided theoretical positions concerning antisocial
acts. A first issue regards the need to disaggregate dimensions of manifestation being debatable
whether these are or are not susceptible to the same influences. The second issue concerns the
contradictory manner in which antisocial behaviors have been conceptualized: unitary syndrome
versus qualitatively distinct entities.
Thus, this study aimed to characterize juvenile antisocial behavior in terms of its
prevalence, frequency, versatility, and main demographic correlates. Furthermore, we were
interested in understanding whether these dimensions are influenced by similar factors exploring
whether they establish analogous relations with demographic characteristics. Finally, it was intent
to examine if multiple behaviors represent a unitary antisocial propensity or by contrast, truly
divergent behavioral subtypes. To examine the first two objectives, 676 juveniles were surveyed online concerning their
involvement in antisocial acts using a questionnaire developed for this purpose. Results showed
that the vast majority of youth perpetrated antisocial behaviors, particularly less serious ones.
Despite this dissemination, it was also possible to conclude that the behaviors were generally
practiced infrequently and that youth displayed a reduced number of distinct acts. Boys and
younger juveniles were the main involved in most of the behaviors and were those that presented
greater behavioral versatility. Nevertheless, these demographic characteristics were not associated with the frequency of committing the majority of acts. Hence, regarding the second
objective we found some evidence that sex and age relate differently to dimensions, which
highlights the need for their disaggregation in understanding this phenomenon.
A second study conducted among 137 antisocial youth addressed the unitary or
differentiated nature of various behaviors. Within this scope, we explored whether the distinction
between conflict with authority, overt, and covert acts better captures the development of
antisocial behaviors, and if these behavioral subtypes are predicted similarly and by the same
factors. The participants were questioned regarding their last year and lifetime involvement in
antisocial acts and were assessed on a wide range of risk factors, with the latter assessment
preceding, in average, approximately 5 months the administration of the self-report behavioral
questionnaire. It was demonstrated that the majority of juveniles did not escalate interchangeably
between behaviors, but progressed among those of a similar nature. It was also found that the
various risk domains did not, as a whole, predict conflict with authority acts as was the case for
overt and covert behaviors. However, in general the risk domains contributed equally to the
prediction of these latter subtypes.
The present thesis reflects the complex, multifaceted nature of juvenile antisocial
behavior and presents some challenges for future research as emphasized in the conclusion.
Apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através da atribuição de Bolsa
de Investigação com a referência SFRH/BD/46373/2008, financiada pelo
POPH - QREN - Tipologia 4.1 - Formação Avançada, comparticipado pelo
Fundo Social Europeu e por fundos nacionais do MCTES

Publicação

Ano de Publicação: 2013

Identificadores

ISBN: 101308922