Abordagem sócio-cognitiva do ajustamento à carreira no ensino superior: o papel das actividades em grupo, da auto-eficácia e dos interesses
Miranda, Maria Cristina Queiroz da Costa Lobo
Thesis
Tese de doutoramento em Psicologia (área de conhecimento em Psicologia Vocacional)
O presente trabalho aborda o processo de ajustamento à carreira no ensino superior
em Portugal, numa perspectiva sócio-cognitiva. Pretende-se contribuir para o
desenvolvimento do modelo sócio cognitivo de adaptação académica proposto por
Lent (2005), o qual adopta uma perspectiva integrativa do bem-estar sob condições de
vida normativas. Pretende-se, além disso, enquadrar a investigação do impacto do
processo de Bolonha no ensino superior, através do estudo do potencial da
aprendizagem cooperativa, das expectativas de auto-eficácia e dos interesses
vocacionais como fontes de bem-estar, bem como prosseguir os contributos de Lent,
Taveira, Sheu e Singley (2009).
A amostra desta investigação é constituída por 368 participantes, de ambos os sexos
(n=355; 96% homens; 13; 4% mulheres), com idades compreendidas entre os 19 e os
46 anos, tendo 50% dos participantes idade inferior a 24 anos, maioritariamente
estudantes que frequentavam o 2º ano (N= 328; 89%) da licenciatura de Engenharia
Mecânica do Instituto Superior de Engenharia do Porto, no ano lectivo de 2008/2009.
Foram administrados três questionários para recolha de dados sócio-demográficos e
caracterização dos processos e experiências pessoais do trabalho em grupo realizado
em sala de aula por alunos do ensino superior, e ainda, nove medidas de auto-eficácia
percebida, uma medida dos interesses vocacionais e medidas de ajustamento
académico. A análise de conteúdo das experiências de trabalho em grupo foi seguida
de um conjunto de análises de estatística descritiva e do uso da análise bivariada e da
análise multivariada, na forma hierárquica (path analysis).
A análise das experiências de trabalho em grupo em sala de aula permitiu a
identificação de três categorias principais: estrutura cooperativa, utilização de
recompensas, e o carácter das tarefas. As opiniões favoráveis das experiências de
trabalho em grupo realizado em sala de aula distribuem-se pelos temas: processo de
auto-ajuda, desenvolvimento interpessoal e percepção de níveis elevados de igualdade
e de reciprocidade.
Analisou-se a estrutura total das relações existentes entre o ajustamento académico
total e as variáveis: (a) a percepção do trabalho em grupo como factor de ajustamento académico total e representante dos apoios, fontes e barreiras ambientais relevantes
para a eficácia no alcance de objectivos académicos; (b) a auto-eficácia global como
representante das expectativas de auto-eficácia; e (c) os interesses vocacionais em
Ciências e Matemáticas, em representação da personalidade e dos traços afectivos. A
regressão múltipla efectuada foi submetida aos princípios da técnica de regressão
hierárquica, que apoiou a descrição da estrutura total das relações existentes entre as
variáveis dependentes e independentes, e avaliar parcialmente as assumpções causais
do modelo de satisfação de trabalho/ satisfação académica de Lent (2005). O trabalho
em grupo como factor de ajustamento académico explica isoladamente 36,9% da
variância observada no ajustamento académico total. A variável auto-eficácia global
explica, isoladamente, cerca de 21,4% da variação da variável ajustamento académico
total, e 73,7% da variação do nível de ajustamento académico total é explicada pela
variação dos interesses vocacionais congruentes com o plano de estudos. Os
resultados das análises de regressão apoiam a totalidade das hipóteses deste estudo.
Os resultados deste estudo concorrem para suportar empiricamente a funcionalidade
de dimensões da personalidade, de dimensões sócio-cognitivas e das dimensões
ambientais, na integração e no ajustamento à carreira no ensino superior.
Os resultados são discutidos à luz da teoria sócio-cognitiva da carreira, mencionam-se
as suas limitações inerentes, e referem-se as implicações para o desenvolvimento de
estudos futuros e para o desenvolvimento de estratégias de intervenção vocacional no
ensino superior.
This work discusses the career adjustment process in higher education in Portugal,
from a socio-cognitive perspective. It is intended to contribute to the development of
the social cognitive model of academic adjustment proposed by Lent (2005), which
adopts an integrative model of human well-being under normative life conditions.
Furthermore, it aims to frame the research on the impact of the Bologna process in
higher education, by studying the potential of cooperative learning, of self-efficacy and
of career interests as sources of well-being, and by pursuing contributions of Lent,
Taveira, Sheu and Singley (2009). The sample for this research consists of 368
individuals of both sexes (n=355, 96% male, 13, 4% women), aged 19 to 46 years, with
50% of participants younger than 24 years, mostly students who attended the 2nd year
(N = 328; 89%) of Mechanical Engineering degree at Institute of Engineering of Porto in
the 2008/2009 academic year. They were admnistred three questionnaires designed
to collect socio-demographic data, and the characterization and personal experiences
of group work processes done in class, and also, nine measures of perceived selfefficacy,
a measure of vocational interests, and measures of academic adjustment. A
content analysis of group work experiences was done, followed by a set of descriptive
statistical analysis and subsequently, and the use of the bivariate and multivariate
analysis in a hierarchical manner (path analysis).
The analysis of teamwork experiences in the classroom allowed the identification of
three main categories ot themes: cooperative structure, use of rewards, and nature of
tasks. The favorable opinions to group work experiences done in the classroom are
distributed by the following themes: self-help, interpersonal development and
perception of high levels of equality and reciprocity.
The overall structure of the relationships between the total and academic adjustment
variables were analysed as follow: (a) the perception of group work as a factor in
academic adjustment and representative of the total aid, sources and environmental
barriers relevant to the effectiveness in achieving academic goals(b) self-efficacy as a
representative of the overall self-efficacy expectations, and (c) vocational interests in
science and mathematics, on behalf of the personality and emotional traits. Multiple regression was carried out subject to the principles of hierarchical regression
technique, which supported the description of the structure of the relationships
between the dependent and independent variables, and partly to evaluate the
assumptions of the causal model of job satisfaction/academic satisfaction presented
by Lent (2005). Group work explains, alone, 36.9% of observed variance in the overall
academic adjustment. The global variable self-efficacy explains, separately, about
21.4% of the variation in total variable academic adjustment, and 73.7% of the
variation in the level of overall academic adjustment is explained by the change in
vocational interests congruent with the curriculum. The results of regression analysis
support all the hypotheses of this study.
The study results contribute to empirically support the functionality of the personality,
socio-cognitive, and environmental dimensions of the integration and adjustment
process to a career in higher education.
The results are discussed in light of social-cognitive theory of career, with reference to
its inherent limitations, and implications for the development of future career studies
and intervention strategies in higher education.